Título: Para empresários, presidente é o fiador da política econômica
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Brasil, p. A3

A troca de Antonio Palocci por Guido Mantega no comando da Fazenda foi recebida com naturalidade pelos empresários. Para os industriais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o próprio fiador da sua política econômica e não temem que o novo ministro aumente exageradamente os gastos, colocando em risco a política fiscal. A avaliação dos empresários, ouvidos pelo Valor em evento realizado ontem na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com a presença de Lula, é de que a orientação da economia do país vai continuar a mesma, talvez com pequenos ajustes - que na verdade agradam ao setor produtivo, como uma redução mais rápida da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Representantes de multinacionais defendem que o mais importante é a manutenção da estabilidade econômica e do risco-país em baixa, o que garante a atração de investimentos. "Espero a continuidade da política de hoje, que tem dado resultados ótimos para a economia, com a queda do risco-país", afirmou Giorgio della Seta, presidente da Pirelli e da Telecom Itália América Latina. Para o empresário, é preciso avaliar o "conjunto" da política econômica, que é bastante complexo. "Claro que gostaria de um câmbio mais favorável e juros mais baixos, mas o mais importante é o pacote completo", defendeu. Segundo della Seta, o risco-país é uma das principais preocupações das empresas quando decidem investir. Para o presidente da Fiat do Brasil, Cledorvino Belini, não haverá mudanças relevantes na condução da política econômica, que hoje já está muito mais institucionalizada. Ele não vê o risco de expansão descontrolada das despesas públicas com Mantega. "O Brasil está no caminho certo e deve continuar nessa trilha. É importante reduzir os juros e impulsionar o crescimento, com a inflação sob controle", afirmou ele. O empresário afirma que o câmbio valorizado está prejudicando as exportações, mas pondera que o real forte é conseqüência do expressivo superávit da balança comercial brasileira. Na sua avaliação, a balança tende a se equilibrar com o aumento das importações, reduzindo a pressão sobre o dólar. Nesta semana, a Fiat anunciou um investimento de ? 1 bilhão no país para os próximos quatro anos, mesmo com o câmbio valorizado. O diretor-executivo de relações institucionais da Andrade Gutierrez, Flávio Machado Filho, afirmou que a "política econômica não é de ministro, mas de governo". Ele acredita que "Mantega já demonstrou sua competência na condução do Planejamento e do BNDES", mas ressalta que "o grande fiador da política econômica é o presidente Lula". O empresário ressalta também que mudou um pouco o perfil do ministro da Fazenda. Enquanto Palocci era mais político, Mantega é mais técnico. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, também não teme que haja um relaxamento irresponsável da política fiscal. "Mantega é uma pessoa equilibrada e competente, que merece nossa confiança. No BNDES, ele se preocupou em reduzir os spreads cobrados pelo banco e a aumentar as linhas de financiamento. Isso é uma visão arrojada de país". Skaf disse que espera algumas adaptações na política econômica, principalmente na política monetária. Ele lembrou que está marcada para hoje a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que deve revisar o nível da TJLP, a taxa que corrige os empréstimos do BNDES. Segundo Skaf, não há motivo para a TJLP estar em 9% ao ano. Com a forte queda do risco-Brasil - um dos indicadores levados em conta para o cálculo - para a casa de 230 pontos, ele acredita que a taxa pode cair para algo entre 7% e 8%, embora veja condições para que ela fique na casa de 6% a 7%. Os empresários passaram a acreditar numa queda mais forte da TJLP na reunião do CMN porque Mantega sempre defendeu reduções mais fortes da taxa. Como ministro da Fazenda, ele participará do encontro ao lado do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. O diretor geral internacional do grupo da área de construção Ghella , Gianni Coppi, acredita que não haverá mudanças na política econômica com Mantega, o que ele considera bastante positivo. Para ele, Palocci teve como grande mérito manter a orientação do governo Fernando Henrique, o que foi fundamental para o país recuperar a confiança. Coppi disse esperar que Mantega continue com essa linha. "Quando o país entra no sistema global, é difícil voltar atrás", afirmou ele, embora tenha reclamado do nível dos juros no Brasil, que atrapalham tanto os empresários italianos que investem por aqui como os brasileiros. O diretor geral de programas industriais da construtora Norberto Odebrecht, Márcio Faria da Silva, também aposta na manutenção da política econômica com Mantega. "Ele se sustenta em bases muito sólidas e não há muito espaço para mudanças", disse Silva, destacando, porém, considerar prematura qualquer avaliação sobre o que fará Mantega. "Ele está há menos de 24 horas no ministério", disse ele. Após participar da abertura do Fórum Brasil-Itália na Fiesp, Lula almoçou com 80 empresários, entre brasileiros e italianos. Ao chegar para o almoço, o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, afirmou apenas que Mantega é um "ótimo profissional" e disse ter certeza de que ele desempenhará seu papel de forma "brilhante". No evento, o grupo italiano de engenharia industrial Maire Tecnimont assinou um acordo de parceria com a Petroquisa e a construtora Norberto Odebrecht. O projeto, que será implementado pela Petroquímica Paulínia (uma joint venture entre a Braskem e a Petroquisa), visa a produção de 300 mil toneladas por ano de polipropileno. Deve ser concluído na primeira metade de 2008.