Título: Lula diz que momento é "auspicioso" e pede mais investimentos
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Brasil, p. A3

Em seu primeiro encontro com empresários nacionais e estrangeiros após a troca do ministro da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que "não existe mágica na economia" e se comprometeu em manter a inflação sobre controle. Mas, ao invés de focar os temas da política macroeconômica que preocupam o setor privado, dedicou a maior parte do discurso para a defesa da política comercial. Sem falar em câmbio. AP Photo/Andre Penner "Não existe mágica na economia, existe tomada de posição e seriedade", disse Lula, repetindo a expressão que utilizou na terça-feira durante a posse de Guido Mantega como ministro da Fazenda em Brasília. "Não vamos permitir que a inflação volte para resolver os problemas de caixa de alguns e do próprio Estado brasileiro", completou. Lula discursou ontem na abertura do Fórum Brasil-Itália para uma platéia de empresários brasileiros e italianos, que lotaram o Teatro do Sesi da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Após o evento, Lula almoçou na entidade com cerca de 80 empresários convidados. O presidente reforçou que acredita "piamente" na credibilidade conquistada pelo Brasil por conta da solidez da política de comércio exterior e da macroeconomia e recomendou aos italianos que invistam no país. Para Lula, "o Brasil vive hoje um momento auspicioso". Ele admitiu que o país ainda tem "deficiências", mas disse que "em poucos momentos da história, o Brasil teve uma posição tão sólida". Ao comentar a política comercial, Lula abordou um tema sensível para os empresários: o reconhecimento da China como economia de mercado. A Fiesp contesta a decisão e divulgou, à tarde, nota dizendo que vem "insistentemente" alertando o governo que a China não é economia de mercado. Estava prevista uma reunião entre Lula e os empresários, ontem, para tratar da concorrência dos produtos chineses, mas a conversa foi adiada. "Eu fui criticado, porque tomei a decisão de reconhecer a China como economia de mercado", disse Lula. "Tomei essa decisão, porque tenho consciência de que, ou nós colocamos a China no âmbito da OMC, e passamos e envolvê-la na discussão, ou nós deixamos a China de lado e ela vai ocupando os espaços sem pedir licença", explicou. Lula disse que China e Índia são "duas novidades no mundo dos negócios que temos que levar a sério". Ele afirmou que os EUA reconheceram a China como parceiro preferencial e estratégico. A China é membro da Organização Mundial de Comércio (OMC) desde 2001. Na época, os chineses concordaram que os países-membros poderiam optar por não reconhecer o país como economia de mercado por 15 anos - até 2016. O status torna mais difícil para um países aplicar direitos antidumping contra os produtos chineses. Diversos países asiáticos (Tailândia, Malásia, Indonésia, Vietnã, entre outros) e a Nova Zelândia já reconheceram a China como economia de mercado. Brasil, Argentina e Chile também se comprometeram, mas o governo brasileiro ainda não regulamentou o novo status. EUA e União Européia não consideram a China uma economia de mercado. Durante o pronunciamento, o presidente fez firme defesa da política comercial e da aposta no aumento do comércio com os países em desenvolvimento. "Eu fui para Angola, para muitos países africanos, e muita gente no Brasil falava. Mas o presidente viajando para a África? Presidente tem que viajar para Itália, Alemanha." Ele também se defendeu das críticas a sua viagem aos Países Árabes. "Ao invés de esperarem os resultados daquilo que estávamos fazendo, as pessoas criticavam os US$ 500 mil (gastos na viagem) sem saber quantos US$ 500 mil nós iríamos ganhar por conta daquele evento", afirmou. Lula utilizou a Venezuela como exemplo e questionou porque o país "compra carros nos Estados Unidos e não no Brasil". Ele reconheceu, no entanto, que o Brasil perde clientes se faltar infraestrutura: estradas, portos, aeroportos e telecomunicações. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, reforçou os resultados da política comercial Ele ressaltou que as exportações brasileiras dobraram desde o início do governo. Disse também que o Brasil exportou mais para a América Latina do que para os EUA em 2005 e que a região deve ultrapassar a União Européia como principal destino das exportações em dois anos. Lula disse que encontrou em Furlan um "mascate" para vender os produtos brasileiros. O embaixador do Brasil na Itália, Ademar Bahadian, anunciou dois projetos para acelerar os investimentos italianos no Brasil. O governo estuda conceder aos empresários italianos dispostos a investir mais de US$ 50 mil visto de residência permanente. O Brasil também pleiteia que o governo italiano reveja o indicador de risco para investimentos no Brasil. A rivalidade Brasil-Itália no futebol também não faltou nos discursos. Furlan agradeceu ao jogador Roberto Baggio, que perdeu um pênalti na final da Copa de 1994, pelo "presente". Já Lula diz que "tem atravessado" o Paolo Rossi, jogador italiano que marcou três gols em 1982 e eliminou o Brasil daquela Copa.