Título: Mandelson descarta decisão durante encontro no Rio
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Brasil, p. A5

O comissário de comércio da União Européia, Peter Mandelson, disse ontem que não se deve esperar nenhuma decisão concreta das reuniões que ele terá na sexta e sábado no Rio de Janeiro para tratar da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Não acho que haverá decisões nesse encontro", disse Mandelson, durante entrevista coletiva concedida em Buenos Aires. "Será uma oportunidade para entender as diferenças entre atores-chave [da rodada] e diminuir as distâncias", afirmou. Além de Mandelson, participarão dos encontros o chanceler brasileiro, Celso Amorim, o representante comercial dos EUA, Robert Portman, e o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy. O Rio será a última escala da viagem de Mandelson pela região, que também incluiu o Chile. De Buenos Aires, o comissário europeu viajou ontem para São Paulo, onde hoje visita usinas de álcool e açúcar na região de Ribeirão Preto, em companhia do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Além de baixar as expectativas em relação ao resultado da reunião, Mandelson reiterou que a União Européia não colocará sobre a mesa uma nova proposta ampliando a abertura de seu mercado a produtos agrícolas. "O momento de fazer gestos unilaterais já passou há muito tempo", afirmou, condicionando a iniciativa a eventuais concessões. Em contraste, cobrou dos Estados Unidos uma proposta de redução de subsídios agrícolas e disse que o Mercosul tem de ceder nas áreas de bens industriais, serviços e uso de denominações geográficas de origem. "Os EUA se definem como uma espécie de intermediário entre a Europa e os países em desenvolvimento. Isso é um erro", avalia Mandelson. "Eles não podem ficar à margem da discussão em agricultura. Fizeram uma oferta incompleta em outubro para reduzir e disciplinar seus subsídios agrícolas, este é um assunto que não foi concluído." Em outubro, os Estados Unidos se comprometeram a reduzir em 60% seus subsídios internos e eliminar os subsídios à exportação até 2010, mas as negociações sobre detalhes da proposta, que poderiam alterar as possibilidades reais de acesso ao mercado americano, ainda não foram concluídas. Mandelson também disse que espera que na reunião sobre a Rodada Doha o Brasil possa dar sinais de que pretende avançar com uma proposta mais ambiciosa de abertura de seu mercado a bens industriais. Sobre a posição argentina, que resiste mais a abrir seu mercado, o comissário europeu de comércio não deu detalhes, mas disse que a disposição das autoridades com quem esteve foi melhor do que ele esperava.