Título: Mercosul, Índia e Africa do Sul querem área de livre comércio
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Brasil, p. A5

O Mercosul vai começar as negociações para formar uma área de livre comércio e investimentos tripartite com a Índia e os países da União Aduaneira da África Austral (Sacu, na sigla em inglês). O acordo entre os 11 países será abrangente: irá ampliar e aprofundar as preferências tarifárias fixas acertadas, no fim de 2004, pelo Mercosul, Índia e Sacu. O acordo trilateral também deverá incluir capítulos sobre serviços e propriedade intelectual, além de investimentos. Nelson Perez/Valor Hoje o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, deverá anunciar que o Mercosul vai propor a criação de um grupo de trabalho para estudar as modalidades de acordo de livre comércio com a Índia e a Sacu, formada por África do Sul, Namíbia, Botsuana, Suazilandia e Lesoto. Amorim afirmou que já existe "um acordo-quadro trilateral", a partir do qual se dará a negociação de produtos e outros temas. A proposta será encaminhada formalmente pela Argentina, atualmente na presidência do bloco, à Sacu e à Índia. "Vamos apoiar o projeto de um acordo trilateral", disse ontem à noite o ministro adjunto dos Negócios Estrangeiros da Índia, Anand Sharma. Sharma, Amorim e a ministra dos Negócios Estrangeiros da África do Sul, Nkosazana Dlamini Zuma, terão reuniões de trabalho hoje, no Rio, e participam à tarde da sessão plenária da 3ª Reunião da Comissão Mista Trilateral do Fórum IBAS, iniciais de Índia, Brasil e África do Sul. O IBAS, um fórum de cooperação, é uma das primeiras iniciativas da política externa do governo Lula. O embaixador Régis Arslanian, diretor do departamento de negociações internacionais do Itamaraty, disse que o Mercosul negocia com a Sacu um pacote adicional ao acertado em dezembro de 2004 pelo qual irão se aprofundar as preferências (descontos) tarifárias no comércio bilateral, ampliando o leque de produtos. O primeiro acordo do bloco com a Sacu incluiu 1,9 mil produtos e previu preferências entre 15% e 100%. "Agora serão incluídos menos produtos, mas com impacto comercial muito maior", disse Arslanian. Entre os produtos que poderão fazer parte da negociação estão soja, carne, carros e autopeças. Presente ao evento, Elizabeth Carvalhaes, representante da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) cobrou dos negociadores a inclusão, mesmo de forma tímida, do setor automotivo no acordo Mercosul-Sacu. Arslanian acrescentou que com a Índia o Mercosul ainda fará troca de pedidos e ofertas para ampliar o acordo original, que inclui 900 produtos. Ele disse que a decisão de negociar um acordo de livre comércio trilateral foi referendada pelos presidentes do Mercosul, na reunião de cúpula do bloco, em Assunção, no Paraguai, em 2005. "O fato novo agora é que o Mercosul chegou a um entendimento para propor a criação do grupo de trabalho que irá estudar as modalidades do acordo trilateral." Iqbal Meer Sharma, vice-diretor da divisão de comércio e desenvolvimento econômico do Departamento de Comércio e Indústria da África do Sul, disse que a associação entre Mercosul, Sacu e Índia será o primeiro acordo tripartite do gênero. Ele avaliou que primeiro será preciso concluir os acordos bilaterais (Mercosul-Índia e Mercosul-Sacu) e, paralelamente, iniciar os estudos sobre investimentos, serviços e propriedade intelectual com vistas ao acordo tripartite.