Título: Para indústria de SP, março foi "morno"
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Brasil, p. A6

A palavra otimismo parece ter saído do dicionário dos empresários paulistas neste começo de ano. De acordo com uma pesquisa inédita do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), mais da metade das indústrias ouvidas, 51%, esperam que sua produção diminua em março na comparação com o igual mês do ano passado. Ao mesmo tempo, apenas 26% delas apostam em um crescimento. E esse pessimismo vem tanto pelo lado das exportações como pelas vendas ao mercado interno. Para este mês, 53% dos industriais paulistas esperam recuo nas vendas domésticas, na mesma comparação. Em fevereiro, esse percentual era bem inferior: 43%. No caso das encomendas externas o resultado é bem pior. Quase dois terços, ou 65% das empresas esperam vendas menores no mês. Em fevereiro, metade delas tinha a expectativa de recuo nas exportações. Para o presidente do Ciesp, Claudio Vaz, o levantamento, realizado em meados de março, reflete o desânimo do setor exportador. "Como não há perspectiva de mudança no patamar do câmbio, fica difícil esperar aumento das exportações". Segundo ele, para o exportador de curto prazo as consequências são perda de rentabilidade e cortes de custos, com destaque para a redução do quadro de funcionários. No caso das empresas exportadoras maiores, que mantêm contratos de prazo mais longo, de um ou dois anos, o reflexo agora é a escassez de novas encomendas. "Já há muitas empresas que não renovaram os contratos. E, daqui a alguns meses, isso vai aparecer nas estatísticas da balança comercial", alerta Vaz. Além disso, mesmo com o desemprego em níveis menores e aumento do rendimento dos trabalhadores brasileiros, o presidente do Ciesp afirma que as empresas não têm espaço para redirecionar sua produção para o mercado doméstico. "Foi o crédito que sustentou o consumo das famílias no ano passado. Como ele vai crescer em taxas bem menores agora, a economia ficará sem esse gás", afirma. Uma notícia positiva, entretanto, é a diminuição do nível de estoques das empresas. Agora em março 38% das empresas consideraram seus estoques dentro do esperado, contra um total de 40% em fevereiro. Para 24% delas esse indicador está acima do desejável agora, enquanto que no mês anterior essa era a situação vivida por 28% das companhias. A pesquisa do Ciesp ouviu indústrias em todo o Estado. Com o resultado dessa sondagem, Vaz reitera sua projeção de um crescimento entre 3% e 3,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Para ele, março e outubro são os meses que melhor sinalizam como vai ser o primeiro e o segundo semestre do ano, respectivamente. "E este março veio aquém das expectativas, embora tenha vindo melhor do que o mesmo período de 2005. Não há nenhuma indicação de que o ritmo de crescimento vai acelerar fortemente", diz.