Título: Domínio estrangeiro
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 30/05/2010, Economia, p. 14/15

Alta de preços do metal viabiliza a exploração de jazidas que não eram viáveis economicamente. Multinacionais lideram o processo. Uso do mineral vai de cosméticos a medicina

Depois de enfrentar um longo período de ostracismo, com seu uso praticamente restrito à indústria joalheira, o ouro voltou a brilhar. A crise de 2008, detonada pelo estouro da bolha imobiliária americana, fez o metal retomar o papel de importante ativo financeiro, crucial para a proteção do patrimônio em tempos de incertezas, agora agravadas pelo recente tombo das economias europeias. Com a perspectiva de forte valorização no radar dos mais conceituados analistas ¿ é possível que a onça troy, medida pela qual o mineral é negociado nos mercados internacionais, salte dos atuais US$ 1.250 para US$ 2 mil até o fim do ano ¿, jazidas que antes se mostravam inviáveis para a exploração tornaram-se sinônimos de lucros. No Brasil, repetindo o histórico de todos os ciclos do ouro, a atual corrida está sendo encabeçada pelas multinacionais. ¿De um tempo para cá, as grandes empresas do mundo têm comprado minas importantes no Brasil, e, com isso, liderado o nosso mercado. É um movimento que deve se fortalecer ainda mais no contexto de valorização mais forte do ouro nos mercados internacionais¿, diz o gerente de dados econômicos do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Antônio Lannes. A maior parte do ouro extraído no país é exportada. Levantamento do instituto mostra que, nos próximos quatro anos, as companhias estrangeiras que atuam no Brasil investirão US$ 1,7 bilhão na ampliação e na modernização de suas operações. Em muitos casos, o dinheiro será usado como parte em acordos firmados com subsidiárias brasileiras e com entidades civis de trabalhadores de garimpo, como é o caso da associação costurada entre a canadense Colossus Minerals e a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp). Pelo contrato, a multinacional bancará os investimentos em maquinários e em tecnologia para reativar aquele que foi o maior garimpo a céu aberto do mundo. Em contrapartida, terá direito a 75% do ouro explorado. Os 45 mil garimpeiros cooperados ficarão com os 25% restantes do metal extraído. Uma conta feita pelos próprios trabalhadores indica que cada um deverá receber salário mensal de R$ 1 mil enquanto durar a exploração. A partir deste domingo e ao longo dos próximos dias, o Correio mostrará uma série de reportagens sobre o mercado do ouro no Brasil. Além de revelar o dia a dia de algumas das minas mais importantes do país, destrinchará os meandros das operações com ouro no mercado financeiro. Traçará, também, uma radiografia do uso cada vez mais disseminado do metal ¿ de cosméticos a medicina. Nas joalherias, com o poder de compra cada vez maior do brasileiro e o crédito farto, as vendas não param de crescer.