Título: Para Mercadante, Mantega terá que "jogar na retranca"
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Política, p. A18

"A seis meses da eleição, a área econômica sabe que tem que jogar na defesa". Com esta frase, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), tentou, ontem, afastar qualquer temor que ainda exista no mercado em relação aos planos do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Conforme o senador, tanto quanto na política monetária, na política fiscal a ordem do presidente Lula é para que a equipe econômica atue como "beque central, jogando na retranca, para não tomar gol". "Não existe espaço para mágica", acrescentou ele, negando a possibilidade de que Mantega venha a adotar qualquer medida que prejudique a estabilidade econômica conquistada na gestão de Antonio Palocci. Mercadante lembrou que, na gestão de Mantega como ministro do Planejamento e Orçamento, o governo Lula já praticava uma política fiscal responsável. "O Guido fez o ajuste fiscal mais duro, que foi em 2003", afirmou o senador. No seu entendimento, mesmo que desejasse, o novo ministro da Fazenda não conseguiria fazer com que a administração pública federal gastasse a ponto de comprometer as metas de superávit primário (conceito que exclui juros). "Não daria tempo", disse ele, explicando que, por causa das eleições, o prazo para a União fazer investimentos via convênios com Estados e municípios termina em 1º de junho. E, até agora, o Congresso sequer conseguiu aprovar o projeto de orçamento da União para 2006, sem o qual esses investimentos não podem ser realizados. No que se refere à política monetária, Mercadante tampouco vê razões para se temer qualquer mudança de rumo. "A política monetária é de responsabilidade do Banco Central, que continuará tendo autonomia. E o presidente já deixou claro que o BC continuará sendo conduzido pelo agora também ministro Henrique Meirelles", disse o senador. Foi uma referência ao fato de que Meirelles responde diretamente a Lula e não ao ministro da Fazenda. Quando estava na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Mantega criticou o Conselho Monetário Nacional por não reduzir mais rapidamente a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que corrige os saldos dos financiamentos concedidos pelo banco. Como ministro da Fazenda, ele agora preside o CMN. Mesmo que a mudança ministerial acelere a queda da TJLP, Aloizio Mercadante não vê problemas. Na sua opinião, isso não atrapalharia o controle da inflação porque essa não é a taxa relevante para a política monetária. O senador descarta ainda qualquer possibilidade de susto quanto ao regime de câmbio. Ele ressalta que, além de não haver divergência sobre o tema no governo, a política cambial também é atribuição do BC.