Título: Lula resiste à saída de Jaques Wagner
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Política, p. A18

A saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda e o acirramento da crise política complicaram o projeto do ministro Jaques Wagner de concorrer ao governo da Bahia. Nos últimos três dias, em pelo menos duas oportunidades - no domingo e na terça - Wagner pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para liberá-lo da tarefa de coordenador político do governo. Nas duas vezes, Lula pediu para que ele ficasse. A fragilidade atual do governo, diante da perspectiva de que a oposição eleve ainda mais o tom dos ataques, preocupa o presidente, que não deseja abrir mão de seu interlocutor com o Legislativo. Wagner ponderou que as alianças políticas baianas, incluindo legendas de esquerda e de centro, estão à espera somente de sua exoneração. Os dois poderiam conversar ainda ontem para definir o impasse. A novela arrasta-se há pelo menos dois meses. Duas semanas atrás, o ministro da Coordenação Política foi pressionado pelos petistas baianos. "Os nossos adversários estão se movimentando, não podemos ficar parados", cobraram correligionários de Wagner. O ministro, mais uma vez, lembrou a promessa feita ao presidente Lula: "Eu quero ser candidato. Mas eu prometi ao presidente que, se ele quisesse, eu ficaria no ministério", lamentou Wagner. O Planalto está receoso. Lula não quer abrir mão de seu articulador político no momento em que a crise ganha novos contornos. O presidente considera Wagner um dos principais responsáveis por estancar o sangramento do governo no ano passado e um dos artífices para a eleição de Aldo Rebelo na presidência da Câmara, depois de sucessivas derrotas do Executivo no Parlamento. Na terça, enquanto Palocci, afastado sob a acusação de participar da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, passava o cargo para o sucessor Guido Mantega, aliados e ministros comentavam com apreensão a troca na coordenação. "Eu conversei com duas pessoas próximas ao presidente e alertei da importância da permanência de Wagner", confirmou um petista com bom trânsito no Planalto. Ele admitiu que essa seria a melhor saída no momento, apesar do desejo do ministro de disputar o governo da Bahia. "Agora não é hora de projetos pessoais, é o momento de todos nos unirmos em torno da reeleição de Lula", disse o petista. O PT quer Wagner como candidato. "Eu não sei de impasse nenhum. Até onde tenho informações, o ministro desincompatibiliza-se no dia 31 de março e concorre ao governo baiano", declarou o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). "Evidentemente, demitir ou não um ministro é uma atribuição do presidente da República. Mas o PT tem muitos outros quadros, gabaritados para a função", disse. Caso Wagner realmente deixe o governo, os mais cotados para a vaga são o vice-líder do governo na Câmara, Sigmaringa Seixas (PT-DF), e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). O otimismo é tanto que o presidente petista não quer trabalhar nem com a hipótese de um plano B na Bahia. "Planos B só são considerados quando tornam-se necessários. Evidentemente, qualquer mudança de alternativas políticas, exigiria uma nova rodada de conversas e negociações com os aliados", apontou Berzoini.