Título: Eleição deixa o quadro político mais dividido
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Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Internacional, p. A19

A vitória do partido Kadima nas eleições desta semana em Israel foi classificada por dois jornais do país como uma espécie de terremoto político, que realinhou a política israelense para o centro e tirou pela primeira vez os dois partidos mais tradicionais, o Likud e o Trabalhista, da chefia do governo. Mas o quadro político ficou ainda mais fragmentado, o Kadima ficou aquém das projeções, e a formação do novo governo será complexa. Criado no ano passado pelo então premiê, Ariel Sharon, o Kadima ficou com 28 das 120 cadeiras do Parlamento (esperava-se 36). O partido ascendeu sob o popular Sharon, hoje em coma após um AVC, e se firmou como uma opção viável à mão leve dos trabalhistas e à mão dura da direita do Likud, que há três décadas dominam a política de Israel. Para governar e executar seu principal projeto, a definição das fronteiras com os palestinos, o Kadima terá de costurar um governo com partidos que aceitem seu plano. O Partido Trabalhista é o mais cotado para uma coalizão, que precisa do apoio de 61 dos 120 deputados. Isso deve exigir mais um ou dois partidos. O premiê interino, Ehud Olmert, que deve permanecer no cargo, reiterou que manterá o legado de Sharon, que levou Israel a concessões dolorosas aos palestinos em troca de uma paz duradoura. Mas o resultado de ontem mostra que, além de endossar o plano de retirada da Cisjordânia, os israelenses estão hoje de olho em questões internas. Os trabalhistas, que focaram sua campanha na justiça social, obtiveram 20 cadeiras, o segundo melhor resultado. Partidos menores e que optaram por focar na economia também se saíram bem. O pequeno Partido dos Aposentados, que apregoou mais benefícios aos idosos, ficou com sete cadeiras. Foi a grande surpresa deste ano. Os religiosos Shas e Israel Beitenu, dos imigrantes russos, também se saíram bem, com 13 e 12 cadeiras no Parlamento, respectivamente. Na outra ponta, o Likud (de direita) sofreu uma fragorosa derrota, espelhada em uma campanha que deixou de lado essas inquietações da população. Obteve apenas 11 cadeiras, ficando em quinto lugar na eleição. Sem Ariel Sharon e comandado pelo linha-dura Benyamim Netanyahu, o Likud esvaziou-se e ficou estigmatizado como um partido de direita que beneficiou os ricos e espremeu os pobres. Membros de seu partido atribuíram a derrota à personalidade e às políticas econômicas adotadas por Netanyahu, ministro das Finanças de Sharon, mas seu rival. Diante da humilhante derrota, cresceram as especulações de que ele deixará a liderança do partido.