Título: Economia cresce em Israel; pobreza também
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Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Internacional, p. A19
A economia de Israel vem crescendo em ritmo forte nos últimos anos, após a recessão causada pela explosão da bolha do setor de tecnologia. No ano passado, o país cresceu 5,2%. Mas a pobreza e a desigualdade também vêm aumentando, algo inédito no país, e a eleição desta semana deixou clara a preocupação dos eleitores. No ano passado, a economia cresceu puxada pelas exportações, pela força do setor tecnológico e por um clima favorável aos investimentos. O importante setor de turismo também se recuperou bem. A projeção de crescimento do PIB em 2006 foi revista para cima, para 4,2%, pelo Ministério das Finanças. Assim, no campo econômico, o novo governo de centro, que será liderado pelo atual premiê interino, Ehud Olmert, terá como principal desafio diminuir a crescente diferença entre ricos e pobres. Dados do governo revelam um cenário preocupante, sobretudo para um país novo e pequeno: uma em cada três crianças vive hoje na pobreza. Isso indica uma erosão de valores históricos como justiça social e solidariedade. A proporção de pobres cresceu de 15% nos anos 90, para 20%. Israel está atrás só dos EUA em desigualdade entre países desenvolvidos. "Ser pobre entre pobres não é tão ruim. Mas ser pobre numa cultura tão voltada para o consumo cria muitos problemas", disse Yosi Katan, da Universidade de Tel Aviv, à rede britânica BBC. O tema virou uma bandeira na campanha eleitoral. Olmert, do partido de centro Kadima, disse que a pobreza poderia ter "consequências destrutivas" para Israel. O candidato trabalhista, Amir Peretz, ex-líder sindical, prometeu que não haveria mais crianças passando fome. "No passado, quando andava pelas ruas de Tel Aviv, ouvia perguntas só sobre Iasser Arafat e os palestinos. Hoje, todos querem falar sobre salário mínimo", disse. "É um prazer ver os cidadãos israelenses com um novo olhar. Eles perceberam que questões diplomáticas dependem da situação internacional, enquanto que as diferenças sociais dependem de nós". O partido religioso Shas exibiu dados impressionantes sobre a pobreza do país, enquanto o também religioso Partido da União Nacional optou por um discurso voltado aos pobres, em vez do tradicional sonho da Grande Israel. Benyamin Netanyahu, candidato do Likud, de direita, pediu que os prejudicados pela política econômica lhe dessem uma segunda chance (como ministro das Finanças de Sharon, ele cortou gastos sociais e ganhou a fama de só beneficiar os ricos). Não deram. O partido teve seu pior desempenho. Um dos reflexos dessa preocupação foi o resultado de novo Partido dos Aposentados, que pede maiores benefícios. Grande surpresa deste ano, ele arrebatou sete cadeiras no Parlamento. O economista Daniel Gotlieb, conselheiro do BC israelense, disse em entrevista à BBC que o governo israelense deveria considerar a pobreza como potencial questão de segurança. "Ela tem o potencial de ameaçar a estabilidade caso não cuidarmos disso." Mas a solução não é simples. Parte do Kadima, partido de Olmert, deve se opor a medidas que elevem o nível do gasto público.