Título: À frente da Abef, momentos difíceis
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Empresas &, p. B1

O executivo Ricardo Gonçalves, que admite estar numa lista de candidatos à presidência da Müller, assumiu a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef) num momento especialmente difícil para o setor. Quando foi indicado para presidir a associação, no fim de setembro de 2005, a gripe aviária - doença que afeta Ásia, Europa e África - despontava como uma grande preocupação para os exportadores brasileiros de frango. Apesar de o Brasil não ter a doença, a demanda por carne de frango já começava a dar sinais de redução em países importadores, em função do pânico provocado pela enfermidade, que matou mais de 100 pessoas, principalmente na Ásia. Por causa da gripe aviária, desde o início do ano, o executivo está às voltas com a queda das exportações brasileiras de frango, reflexo do recuo da demanda num momento em que a oferta de carne de aves no país é elevada. Além disso, teve de negociar com o governo a implantação de um plano de prevenção e combate à influenza aviária, para tentar evitar a entrada da doença no Brasil. Viveu dificuldades nessa negociação, já que a Abef defendia a proibição imediata do trânsito interestadual de aves vivas e material genético para impedir perdas nas exportações, caso a doença chegue por aqui. O Ministério, contudo, definiu que haverá restrições apenas após um estudo soroepidemiológico dos plantéis de aves e avaliação dos critérios de fiscalização de cada Estado. Para alguns representantes do setor de frango, uma possível saída de Gonçalves da Abef não surpreenderia. Isso porque, desde o início de sua gestão, o executivo enfrentou resistência de alguns associados da Abef, principalmente de empresas de menor porte. Elas consideravam que Gonçalves, que entrou na Abef num processo de profissionalização da entidade, não tinha perfil para o cargo. Apesar de ser visto como administrador experiente - Gonçalves presidiu a Nestlé e também a Parmalat, no auge da crise desta última -, alguns representantes do setor consideram que ele não tem experiência política e conhece pouco sobre a área de frango. Na época da indicação de Gonçalves para a Abef, o Valor apurou que seu nome fora defendido pelo presidente do conselho de administração da Sadia, Walter Fontana, mas não era consenso no setor. Diante deste cenário, fontes do mercado ouvidas pelo Valor acreditam que Gonçalves deve avaliar a proposta da Müller. Mas ninguém ainda se arrisca a dizer quem ocuparia o seu posto na Abef.