Título: HP esforça-se para disseminar Itanium no mercado nacional
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Empresas &, p. B3

Após quase 12 anos de investimentos bilionários e muitos contratempos, um dos mais ambiciosos projetos da indústria de tecnologia finalmente dá sinais de que pode trazer retorno a seus criadores. O Itanium, uma espécie de superprocessador desenvolvido conjuntamente entre a Intel e a Hewlett-Packard (HP) desde 1994, começa a ganhar mercado em todo o mundo - inclusive no Brasil -, deixando para trás especulações sobre sua viabilidade comercial. "Fomos otimistas imprudentes a respeito do Itanium; hoje, somos otimistas prudentes", diz Eric Martorell, gerente mundial de servidores da HP, que está no Brasil para visitar clientes e tentar convencê-los dos benefícios da tecnologia. Martorell traz na bagagem alguns números importantes. Em 2005, as receitas com Itanium cresceram 90% e a HP faturou mundialmente US$ 1,6 bilhão em projetos baseados no processador. Até 2009, a consultoria IDC estima que os ganhos devem aumentar a uma taxa média anual de 36%. A pequena oferta de softwares projetados para rodar sobre Itanium, uma das principais críticas que o produto sofria, começa a ser rebatida. Até meados de março, cerca de 7,7 mil sistemas de outros fornecedores de tecnologia foram reescritos para o superprocessador. "O desafio do Itanium é criar uma base de usuários para referências e isso está sendo conseguido aos poucos", afirma Fábio Costa, presidente da IDC no Brasil. O mercado nacional é um dos que mostraram maior avanço: as vendas do Itanium somaram US$ 17,34 milhões no primeiro semestre de 2005, contra modestos US$ 1,8 milhão no mesmo período de 2004 - um salto de 865%. Maurício Bouskela, diretor de negócio da Intel para a América Latina, afirma que há mais de cem clientes do processador no país. O executivo diz que o segmento financeiro é um dos principais motores da adoção do produto no mercado brasileiro. O Itanium foi concebido para rodar dentro de servidores, os grandes computadores que controlam as redes empresariais. Trata-se de um setor complexo que, grosso modo, pode ser dividido entre máquinas de maior capacidade (high-end), equipamentos intermediários (midrange) e mais leves (low-end). É nas duas primeiras categorias que os servidores com Itanium se encaixam. Por trás dessa sopa de termos em inglês está um mercado que movimentou US$ 50 bilhões mundialmente em 2005 e é disputado palmo a palmo por HP, IBM, Dell, Sun Microsystems e outras gigantes. O Itanium é uma das principais apostas da HP para aumentar sua fatia desse bolo, mas o projeto passou por um período de descrédito e até hoje é visto com uma dose de ceticismo. Este ano, a companhia quer aproveitar o embalo do crescimento na adoção do Itanium registrado em 2005 para dar novo fôlego à linha de servidores Integrity, que é baseada no superprocessador, e criar um clima de "agora vai". Apesar dos resultados animadores, os problemas parecem perseguir o Itanium. Em outubro, a Intel anunciou que o lançamento da esperada versão "dual core" do processador, que reúne dois centros de processamento, seria adiado do final de 2005 para meados de 2006. A HP já havia planejado colocar no mercado uma nova geração dos servidores de alta performance conhecidos como "Superdome", que viriam munidos com o produto. A solução foi lançar as máquinas com o velho Itanium de um núcleo, prometendo que versões com a tecnologia dual core estarão disponíveis em breve. Martorell minimiza a importância do atraso e diz que outros componentes, além dos processadores, são importantes para a performance dos servidores. Analistas de mercado, contudo, acreditam que a decisão foi baseada no receio da HP de perder terreno para os concorrentes caso demorasse a oferecer novas opções a seus clientes. Quando a Intel assumiu o papel central no desenvolvimento do Itanium, em 1994, foi anunciado que o projeto resultaria em um processador de 64 bits - um produto de nova geração, já que os processadores presentes no mercado eram de 32 bits - que seria voltado para máquinas de maior porte. Mas Intel e HP não escondiam a pretensão de que o sucesso da tecnologia a tornaria atrativa para os equipamentos menores tão logo o aumento de escala na produção reduzisse seu custo. Com isso, o Itanium tornaria-se padrão de processador para todos os servidores. Esse era o plano, mas faltou combinar com o adversário. A americana AMD, concorrente da Intel, fez um movimento inesperado e pegou o projeto do Itanium no contrapé. A companhia conferiu características de 64 bits e aprimorou a performance do Opteron, uma linha de processadores mais barata. Com isso, ao invés de o Itanium descer das grandes máquinas para popularizar-se entre os servidores leves, foram os processadores de máquinas pequenas que se tornaram atrativos para suportar sistemas mais pesados. Para não perder participação, a Intel foi obrigada a também adaptar seu produto equivalente ao Opteron, o Xeon, para tecnologia de 64 bits. Ao fazer isso, o Itanium, embora ainda tivesse vantagens tecnológicas, perdeu a atratividade de ser o único 64 bits na praça e começou a parecer muito caro para os clientes. A saída foi investir mais ainda no produto para melhorar sua performance e diferenciá-lo dos concorrentes. Este movimento empurrou definitivamente o Itanium para o mercado high-end, matando - ou pelo menos adiando - o sonho de torná-lo padrão para a indústria. "Os planos tiveram que ser revistos. Pensávamos no Itanium para todos os tipos de servidores, agora pensamos apenas para as grandes máquinas", admite Martorell. O projeto tornou-se menos ambicioso, mas com maiores chances de êxito - como os recentes resultados parecem comprovar.