Título: Rabinovich estuda saída do capital da Vicunha
Autor: Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Empresas & Tecnologia, p. B-1
Está em início de gestação a dissolução amigável de uma das mais famosas sociedades empresariais entre famílias no país: dos Steinbruch e dos Rabinovich, que juntos controlam ativos avaliados de US$ 7 bilhões a US$ 9 bilhões, incluindo a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e a Vicunha Têxtil. O fato que desencadeou as ações para o fim do casamento dos controladores do grupo Vicunha foi a morte de Clotilde, irmã de Jacks Rabinovich, há pouco menos de três meses. Jacks, que já vinha amadurecendo a idéia de dar liquidez aos seus investimentos, decidiu então colocá-la em prática. Contratou o banco de investimentos Goldman Sachs para definir desenhos possíveis para sua saída - e de seus filhos e sobrinhos - dos negócios. O caminho é de longo prazo, já que envolve uma complexa negociação na CSN, mas já há hipóteses para a venda de alguns ativos no curto prazo. Consultado, o banco preferiu não se manifestar. Aos 75 anos, Rabinovich, um dos fundadores do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), quer aproveitar mais a vida e dedicar-se a passear em seu barco e a praticar um de seus hobbies, a pesca. "Dizem até que sou bom pescador", brinca um bem-humorado Jacks. Ele desconversa sobre o fim da sociedade com os Steinbruch, mas admite que o Goldman Sachs foi contratado para desenhar uma oferta de ações da Vicunha Têxtil/Textília - área que deu início ao grupo Vicunha. "Há um momento favorável na bolsa e podemos partir para oferecer ações e dar saída para quem quiser sair", explica Jacks, ressaltando que já se sente curtindo a vida e que os cargos que ocupa nos conselhos de administração da Vicunha Siderurgia e da Textília (controladoras, respectivamente, de CSN e de Vicunha Têxtil) permitem que ele faça suas pescarias tranqüilamente no fim-de-semana. Apesar das evasivas do empresário, o Valor apurou que o plano é dar liquidez a todos os investimentos. Na prática, a gestão dos ativos já está hoje nas mãos dos irmãos Steinbruch - Benjamin, no aço, e Ricardo, no ramo têxtil. E, depois da morte da irmã, Jacks tem confidenciado a amigos que, na sua idade, já é hora de deixar aos seus filhos uma solução para seu patrimônio. O empresário tem três filhos - Eduardo, Olga e Beatriz - e nenhum deles ocupa cargos executivos nas empresas do grupo ou têm envolvimento direto na gestão dos negócios. Eduardo é o único a participar de conselhos de administração. Tampouco os sobrinhos de Jacks, filhos da irmã Clotilde, têm cargos executivos. Jacyr Pasternak é um médico infectologista de renome, chefe de equipe nos hospitais Albert Einstein e Beneficência Portuguesa. Suzana Pasternak é professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Por e-mail, Suzana informou que considera prematuro falar sobre a saída dos Rabinovich dos negócios. Mas confirmou que é desejo "do tio Jacks de - eventualmente, e se o preço for conveniente - vender a participação que tem no Grupo Vicunha". A sobrinha de Jacks disse que ela e o irmão fizeram carreiras fora do grupo para evitar problema sucessório. "Herdeiros de grupos econômicos costumam ser bastante medíocres, e com problemas de auto-afirmação", explicou, acrescentando que, no momento, a família está analisando balanços e preços com a ajuda de Rubens Barhum, ex-diretor financeiro da Vicunha Têxtil. O grupo Vicunha está hoje baseado em três pilares de negócios: áreas têxtil, de siderurgia, e de ativos imobiliários e gás. Nos últimos meses, alguns imóveis, reunidos na Vicunha S.A., já começaram a ser negociados. O passo seguinte, segundo o Valor apurou, será resolver a questão da área têxtil, cujo grande ativo é a Vicunha Têxtil . Na Textília, o controle é dividido meio a meio entre os Steinbruch e os Rabinovich. Na Vicunha Têxtil, porém, a participação é maior dos Steinbruch porque, além das ações detidas via Textília, Dorothéa (mãe de Benjamin, Ricardo e Elisabeth) tem mais 7,73% do capital total e Eliezer (tio de Benjamin), 7,25%. Segundo dados da Economática, o "free float" (ações em poder do mercado, fora do bloco de acionistas controladores) da Vicunha Têxtil é de 20,74% do capital total e de apenas 6,44% das ações ordinárias. O Valor apurou que, embora Jacks cite como opção uma oferta de ações na bolsa, já há negociações para que os Steinbruch comprem a parte dos Rabinovich na empresa, exercendo o direito de preferência previsto no acordo de acionistas. Do lado de Jacks, a avaliação é de que o valor total da Vicunha Têxtil seja de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões. A avaliação dos Steinbruch é menor. Fonte próxima das negociações disse que não estaria descartada a hipótese de, em fase posterior, já sem os Rabinovich, a Vicunha Têxtil negociar uma fusão ou associação com a Coteminas, controlada pelo vice-presidente José Alencar. No passado, ambas já conversaram sobre o assunto, mas o acordo não prosperou. Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, desconversou. Afirmou que no início dos anos 90, a Coteminas teve uma empresa com os Steinbruch cujo único objetivo era participar do capital da Cia. Industrial Belo Horizonte. "Essa têxtil quebrou, os proprietários não negociaram conosco e nós e os Steinbruch desfizemos a sociedade", explicou. Ao Valor uma fonte que atua do lado dos Rabinovich disse não acreditar que já esteja engatilhada uma conversa com Coteminas. "O valor de uma Vicunha Têxtil com Coteminas é maior e não faria sentido negociar uma saída da empresa antes de um acordo como esse ser fechado." Em uma possível cisão dos negócios dos Rabinovich e Steinbruch, a área de mais difícil solução é a siderurgia, da qual cada família detém 50% de participação. O valor de mercado do principal ativo na área, a CSN, era ontem de US$ 5,2 bilhões e calcula-se que, incluindo o prêmio de controle, as cifras superem os US$ 7 bilhões (R$ 19,22 bilhões). É um caminhão de dinheiro, mesmo excluindo a dívida que a Vicunha Siderurgia tem com o BNDES, de R$ 1,95 bilhão (R$ 308 milhões de curto prazo e R$ 1,64 bilhão no longo prazo. No aço, segundo o Valor apurou, que a solução poderá sair de uma costura com a nova diretoria do BNDES, de quem Benjamin é mais próximo, e incluir uma reestruturação geral do setor, sob as bençãos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Deve rolar muita pescaria até lá.