Título: Área de suínos amarga forte crise no RS
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, Agronegócios, p. B8

Ao mesmo tempo em que a gripe aviária nos países consumidores derrubou as exportações de frango do Rio Grande do Sul em 16,6% no primeiro bimestre na comparação com o mesmo período de 2005, para 84,6 mil toneladas, os embarques de carne suína do Estado estão praticamente parados desde o início do ano devido ao embargo imposto por 56 países depois da ocorrência de febre aftosa no Paraná. Os estoques dos frigoríficos gaúchos já somam cerca de 60 mil toneladas, quatro vezes mais do que o volume normal e o equivalente a um mês e meio de produção, os preços despencam nos mercados interno e externo e as empresas e cooperativas já começam a falar em demissões. Para o Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Estado (Sips), a crise atual é a pior desde 1978, quando a peste suína fez despencar quase a zero o consumo. Conforme o diretor executivo da entidade, Rogério Kerber, as empresas sequer encontram mais armazéns disponíveis para estocar os produtos e começam a reduzir os abates. Foram 382 mil cabeças em fevereiro, ante 420 mil em janeiro. Segundo Kerber, os estoques atuais valem cerca de R$ 180 milhões e estão consumindo o capital de giro das empresas, que tiveram de alongar de quatro a cinco dias para até três semanas o prazo de pagamento aos criadores. Por conta disto, o Sips já solicitou audiência com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Internacional, Luiz Fernando Furlan, para solicitar a abertura de uma linha de crédito de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões para o setor. Enquanto isto, os preços cobrados pelas indústrias no mercado interno caíram mais de 30% desde janeiro, mesmo percentual de retração registrado nos valores pagos ao produtor, em função da concorrência provocada pelo excedente de oferta de carne de frango, explica o diretor. Nos poucos países que ainda importam carne gaúcha, como Argentina e Uruguai, os negócios são fechados "bem abaixo" do preço normal de US$ 1,8 mil por tonelada, afirma. O problema, conforme o executivo, é a demora do governo brasileiro em convencer as autoridades russas de que o Rio Grande do Sul deve ficar de fora do embargo porque não é limítrofe com o Paraná. Mesmo pelas regras da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) o Estado estaria livre da restrição porque faz parte, junto com Santa Catarina, do Circuito Pecuário Sul, onde não há ocorrência de aftosa desde 2001. A Rússia é a maior importadora de carne suína do país e do Rio Grande do Sul, com uma participação de 60% e 48% sobre os embarques totais, respectivamente. No frigorífico Mabella, os estoques já chegam a aproximadamente 4 mil toneladas, quatro vezes a mais do que o normal, relata o diretor comercial Darci Marioti. A empresa de 700 funcionários abate 1,6 mil animais por dia nas plantas de Frederico Westphalen (RS) e Itapiranga (SC), sendo 45% normalmente destinados à exportação, mas as operações podem ser suspensas se não houver solução para o problema até dia 10 de abril. A cooperativa Cotrijuí, de Ijuí (RS), carrega estoque equivalente a um mês de produção e admite reduzir em 30% o abate de 700 cabeças diárias nos próximos dias, diz o diretor secretário Osmildo Bieleski, que também é presidente do Sips. Se isto ocorrer, 20% dos 325 funcionários do frigorífico deverão ser demitidos. A cooperativa exporta 60% da produção, dos quais 65% são destinados à Rússia.