Título: Reação econômica favorece ações de têxteis e calçados
Autor: Adriana Cotias
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2006, EU &, p. D2

O aumento da massa salarial e a aceleração da atividade econômica devem estimular o consumo do brasileiro e favorecer as ações do segmento de têxteis e calçados, segundo analistas. Depois de um 2005 de difícil manejo para as companhias, a previsão é de que a partir do segundo semestre o clima de Copa do Mundo e as eleições estimulem os gastos, incluindo bens não duráveis. A concorrência de países asiáticos, comandada pela China, ainda pesa sobre as avaliações, assim como o câmbio valorizado. Mas a leitura é de que as parcerias internacionais que já começam a se desenhar possam contribuir para neutralizar o efeito negativo sobre as vendas externas. Segundo a base de dados da Thomson One Analytcs, as principais recomendações no setor são para as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Coteminas e da Alpargatas, com sete e três indicações de compra ou atraente, respectivamente. A ordinária (ON, com direito a voto) da Grendene é considerada um ativo mais volátil, mas mesmo assim tem quatro citações favoráveis. Pela média de preço-alvo do mercado, de R$ 25,55 por ação, é o papel que embute, aliás, o maior potencial de valorização na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), de mais de 48%. Da amostra setorial, Guararapes foi excluída pelo fato de os analistas avaliarem o papel mais pelo lado do varejo, dado o peso que as operações da Lojas Riachuelo assumiram no negócio. "Grendene é um papel que vale mais para o médio e longo prazo, é uma empresa que reposicionou a sua marca e tem relação com grandes varejistas mundiais", diz o analista da Fator Corretora Eduardo Pfiszter. "Mesmo com o câmbio valorizado, as receitas externas aumentaram no quarto trimestre, mas o mercado interno ainda se mostra muito fraco e, no conjunto, já são quatro trimestres consecutivos sem crescimento." Na escala de recomendações da Fator, ele considera atraente Grendene ON, com um preço-alvo de R$ 27,18. Vale lembrar que esse cálculo leva em conta as projeções de resultados para a empresa, mas depende das condições do mercado e de procura pelo papel para se concretizar. Pfiszter também tem Alpargatas PN como atraente, avaliada em R$ 96,10 e tem indicação de compra para Coteminas PN, com preço estimado em R$ 295,40. Coteminas também tem recomendação de compra do analista Rodrigo Bonsaver, da Planner Corretora. A busca pela internacionalização, após a associação com a americana Springs Industries, em outubro passado, é citada como ponto a favor. "É uma companhia já madura e pode começar a mostrar os resultados dessa parceria num mercado importante como o dos Estados Unidos", diz. Ele tem um preço-alvo de R$ 271,00 para o papel, abaixo da média do mercado, mas ainda com um potencial de ganhos de mais de 20%. Com cerca de 50% das receitas da companhia originadas nas vendas externas e com a forte concorrência chinesa, o analista Andrés Kikuchi, da Link Corretora, avalia a união com a Springs como fator que possa atenuar os efeitos do câmbio valorizado. Mas no setor ele prefere Alpargatas e vê no fortalecimento de marcas como Rainha, Mizuno e Timberland como o canal de amplificação de resultados da empresa, muito reconhecida pela estratégia bem-sucedida de Havainas. "No ramo de calçados, o crescimento acompanha o incremento da renda, o que estimula migração de marcas menos conhecidas para aquelas de maior percepção de valor." Apesar de Alpargatas PN ter se valorizado mais de 23% só neste ano, a Orbe Investimentos tem intenção de manter o papel no seu fundo de ações. "Compramos a R$ 20,00 e não imagino vendê-lo a menos de R$ 140,00", diz o sócio da gestora Fabio Carvalho. Segundo ele, a aposta na empresa justifica-se não só pelo cenário de aquecimento econômico que beneficia a venda de artigos de maior valor agregado, mas também pelo aumento do preço médio no mix de produtos. "A atividade da empresa é sensível à renda e com essa combinação dá para se prever receitas superiores às de 2005", diz. Carvalho ainda cita o plano de investimentos de R$ 130 milhões para este ano, a fim de ampliar a capacidade instalada para 2007. No setor ele avalia outras oportunidades e diz que o argumento da concorrência chinesa tem sido generalizado e que não afeta todas as companhias com o mesmo peso. "Em alguns casos, a venda de tecidos baratos até ajuda as empresas locais que compram a matéria-prima numa condição de custos mais vantajosa."