Título: Sob as asas de Uribe
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 30/05/2010, Mundo, p. 22

Política de guerra total às Farc é a aposta do presidente para eleger seu candidato nas eleições de hoje

O presidente colombiano, Álvaro Uribe, vai às urnas hoje preocupado com quem será, nos próximos quatro anos, a ¿galinha¿ encarregada de chocar os ¿ovinhos¿ que ele deixou na Casa de Nariño. Em entrevista à emissora Toca Stereo, de Fusagasugá, do departamento de Cundinamarca, Uribe disse que se preocupa muito com a sensação de que ¿alguns (candidatos) têm propostas para matar a galinhazinha da Segurança Democrática¿ ¿ sua estratégia de guerra total às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). ¿Estão propondo uma política de consentir, acariciar, dialogar com os terroristas, os sequestradores. E enquanto se propõe esse diálogo, os sequestradores aproveitam e sequestram 4 mil colombianos¿, atacou. Uribe entende que a ¿galinha¿ protege os ¿três ovinhos¿ de seu governo: a segurança, a confiança para investimentos e a coesão social. E pediu aos eleitores para não ¿trocarem a galinhazinha (que cuida) desses ovos¿. As últimas pesquisas de opinião mostravam Antanas Mockus, do Partido Verde (PV), tecnicamente empatado com o candidato de Uribe, Juan Manuel Santos, do Partido Social da Unidade Nacional (conhecido como Partido da U). De acordo com o Centro Nacional de Consultoria (CNC), Santos levaria 35% dos votos, e Mockus, 34%. No fim da lista apareceriam a ex-chanceler Noemi Sanín, do Partido Conservador, com 12%; Rafael Pardo, do Partido Liberal, com 5%; Gustavo Petro, do Polo Democrático Alternativo, também com 5%; e Germán Vargas Lleras, da Mudança Radical, com 4%. ¿Sem querer profetizar, pois a rápida ascensão do candidato verde volatizou todos os prognósticos prévios às eleições, o mais provável é que no segundo turno, previsto para 20 de junho, concorram Santos e Mockus¿, avalia o sociólogo Ricardo Angoso. O cientista político Germán Ayala Osorio, da Universidade Autônoma do Ocidente, em Cali, ressalta que vários fatos têm deixado Uribe e seus seguidores ¿nervosos¿. ¿A `onda verde¿, por exemplo, é considerada uma verdadeira ameaça, que certamente será enfrentada com a argúcia e os estratagemas costumeiros de um governo especialista no vale tudo, em criar atalhos, contanto que se perpetue, seja no corpo de Santos ou mesmo de Vargas Lleras ou Noemí¿, afirma. Para Osorio, a renúncia do general Freddy Padilla ao comando das Forças Militares, na semana passada, e as declarações do general Jorge Enrique Mora Rangel, antecessor de Padilla, alertando sobre o desânimo das tropas, seriam também ameaças para Uribe, que tenta influir na escolha dos cidadãos e empresários que o acompanham desde 2002. ¿Somam-se a fatos anteriores o escândalo da espionagem de autoridades pelo DAS (agência de inteligência), os `falsos positivos¿(1) e o relatório ambivalente no qual o relator da ONU assinala que houve um padrão de execuções sumárias de civis, ainda que não possa indicar que os assassinatos obedeçam a uma política oficial, ou tenham sido cometidos nos marcos dela¿, enumera o analista. Santos, que foi ministro da Defesa de Uribe, defendeu-se na sexta-feira das acusações sobre os falsos positivos e disse que no governo Uribe sua gestão acabou com o esquema. ¿Doeu meu coração quando se comprovou o que estava acontecendo. (...) No momento próprio foram tomadas ações efetivas, e assim espero atuar na Presidência perante situações similares, isto é, com contundência, transparência e efetividade¿, prometeu o favorito de Uribe.

Em guarda O governo mobilizou 350 mil soldados e policiais, além de mais de 11 mil seguranças privados, para garantir a votação de hoje em todo o país. Um relatório da Defensoria Pública, divulgado na quinta-feira, estimou que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) podem interferir nas eleições de 78 municípios. No mesmo dia, em comunicado publicado na página web da agência de notícias Anncol, a guerrilha convocou os colombianos a se absterem. As Farc consideram que todos os candidatos presidenciais ¿prometem mais gastos militares e mais guerra¿, deixando o país no ¿mais profundo abismo das desigualdades¿. ¿As propostas, os programas e os compromissos com a nação foram substituídos pelo ataque grotesco e vulgar¿, dispara o comunicado. O governo, a polícia e várias organizações civis temem que as Farc cometam atentados e ataques às forças de segurança hoje, especialmente nos departamentos onde estão mais presentes, como Cauca, Tolima, Huila, Caquetá e Putumayo, que descrevem um arco ao sul de Bogotá, projetado do litoral do Pacífico em direção ao leste.