Título: Braskem pressiona Petrobras para exercer opção
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Brasil, p. A2

O alto escalão da Braskem, controlada pelo grupo Odebrecht, tenta junto à Petrobras uma solução para que a estatal exerça a opção de aumentar a fatia no capital da petroquímica sem provocar grandes desgastes políticos. As conversas se arrastavam durante a noite de ontem e devem se estender ao longo do dia de hoje quando vence o prazo para que a Petrobras anuncie, depois do fechamento da Bolsa de Valores, se deseja elevar sua fatia de controle na Braskem dos atuais 10% para até 30% dando em troca ativos petroquímicos de sua propriedade. A maior aposta no setor é que a Petrobras decida adiar sua opção, transferindo a decisão para mais adiante. A estatal tenta evitar ônus políticos, principalmente em um ano eleitoral. A opção está prevista desde que a Odebrecht comprou a Copene, a empresa-mãe do pólo petroquímico do Nordeste, mas já foi adiada outras vezes. O negócio enfrenta a mobilização contrária da bancada parlamentar gaúcha, com a adesão dos três senadores e dezenas de deputados federais do Estado, e de representantes sindicalistas. O argumento de todos é que o pólo não pode ser entregue nas mãos da Braskem e querem que a Petrobras lidere um programa de investimentos no Rio Grande do Sul. Com receita de R$ 14,3 bilhões, a Braskem é a maior empresa brasileira do setor. Caso a Petrobras decida exercer a opção, a companhia ampliará sua hegemonia sobre o pólo do Sul, uma vez que a estatal oferecerá a ela ativos como a Petroquímica Triunfo e 15,6% das ações que detém na Copesul, considerada a jóia-da-coroa. O grupo Ipiranga, que divide o controle da Copesul com a Braskem, é quem mais resiste à possibilidade de a Petrobras exercer a opção. Por isso, nos últimos meses, vem buscando uma solução alternativa com a estatal. O objetivo é fazer com que a Petrobras seja sua sócia e minimizar o desembolso que terá de fazer caso deseje continuar no controle da Copesul igualitariamente à Braskem. Sozinha, a a Ipiranga terá de gastar cerca de US$ 450 milhões para ficar com fatia igual à da sua sócia e rival. Uma possível entrada da Petrobras na Ipiranga é vista, pela ótica da Braskem, como um entrave para a simplificação do pólo petroquímico do Sul, uma vez que desestimularia novos investimentos para sua expansão. Com o controle da Copesul e da Triunfo, a Braskem ganharia mais escala e sinergias, incluindo benefícios fiscais. Neste cenário conflituoso, a Petrobras poderá desagradar tanto os controladores da Braskem como os do grupo Ipiranga dependendo do lado que pender sua decisão. Um caminho menos desgastante apontado por fontes do setor é ressuscitar uma solução utilizada na época da criação da indústria petroquímica no Brasil: o modelo tripartite. Por essa fórmula, Petrobras, Braskem e Ipiranga passariam a controlar a Copesul, de forma igualitária, incorporando seus ativos de segunda geração na central petroquímica.