Título: BC vê alta de 4,0% no PIB e inflação de 3,7%
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Brasil, p. A3
O conjunto de indicadores econômicos divulgados ao longo do primeiro trimestre reforçou a convicção do Banco Central de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá pelo menos 4% este ano, sem que a inflação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deixe de convergir para a meta fixada pelo governo (4,5%). Essa é a principal conclusão que se tira do relatório trimestral de inflação apresentado ontem pelo diretor de política econômica do banco, Afonso Bevilaqua. Ruy Baron/Valor "Há várias boas razões para que os 4% se verifiquem. Temos um ambiente de crescimento muito melhor. Os dados divulgados desde então confirmam o cenário antecipado pelo relatório de dezembro", afirmou o diretor, apontando diversos indicadores. Se a taxa esperada se confirmar em 2006, o crescimento médio da economia brasileira no triênio 2004-2006 será de 3,7%, "o dobro da média verificada no período 1999-2003, que foi de 1,8%", ressaltou. A recuperação mostrada pelo nível de atividade econômica no último trimestre de 2005, em relação ao trimestre anterior, é um dos fatores destacados no relatório. Em vez de cair, como aconteceu no período julho/setembro (0,9%), o PIB aumentou 0,8%. Bevilaqua lembrou que esse crescimento se deu de forma generalizada e foi mais forte na indústria (1,4%). Associada ao fato de que a inflação se manteve baixa, a discrepância entre crescimento do PIB (sob o ponto de vista da oferta) e da demanda agregada da economia em 2005 indica, segundo Bevilaqua, que houve acentuado processo de redução de estoques das empresas. A demanda ampliou-se 3,2%, enquanto que o PIB cresceu só 2,3% em termos reais. Ou seja, a atendimento da demanda foi possível pelos estoques, que só se refletem no PIB no momento da formação, e não do uso. Na medida em que esses estoques acabarem, disse Bevilaqua, novos terão que ser formados, gerando crescimento. Ele observou que os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que o nível de produtos finais prontos, guardados à espera do consumo, ainda está acima do desejado pelas empresas. O processo de redução líquida de estoques ainda não acabou, portanto. Mas dada a magnitude do que ocorreu no último trimestre, Bevilaqua acredita que não durará muito mais. A diferença entre a variação da demanda agregada e a do PIB foi maior, quando comparados os números do último trimestre de 2005 com igual período de 2004. Enquanto o PIB variou só 1,4%, a demanda cresceu 3,5%. As perspectivas favoráveis de crescimento são reforçadas por dados relativos a vendas no varejo, renda, emprego e crédito. "As vendas do comércio varejista mostraram padrão semelhante ao da produção industrial , crescendo ao longo do último trimestre, depois de terem apresentado estagnação no terceiro", afirma o BC no relatório de inflação. Em 2006, elas devem crescer pelo menos 6,3%, pelas suas previsões. A massa salarial cresceu 5% no ano passado, percentual superior ao dobro do verificado em 2004, quando foi de 2,4%, destacou o diretor do Banco Central. Embora tenha subido em relação a dezembro, a taxa de desemprego também está melhor quando analisada numa perspectiva de prazo mais longo. O nível de janeiro de 2006 é o menor verificado desde 2002 para meses de janeiro. O de dezembro, também. Bevilaqua lembrou que a alta do desemprego de dezembro para janeiro foi sazonal. No que se refere à oferta de crédito, os números apurados pelo próprio Banco Central mostram um crescimento consistente desde 2003. O saldo do crédito oriundo de recursos de livre aplicação pelos bancos já alcança cerca 21% do PIB, ressaltou. A expectativa do BC de que o crescimento ocorrerá sem comprometer as metas de inflação baseia-se, entre outros fatores, no comportamento dos investimentos, que atingiram 19,9% em 2005. Bevilaqua projeta para 2006 crescimento de 6,6% nessa taxa, ante 1,4% em 2005. Mesmo com a redução dos juros básicos, a inflação projetada para o IPCA em 2006 não subiu. No cenário de referência, que considera juros fixos no patamar atual e câmbio estável em R$ 2,15, a previsão de inflação caiu de 3,8% para 3,7%. No cenário de mercado, que leva em conta redução de juros e aumento do dólar, também caiu, de 4,9% para 4,6%. A meta é fechar o ano com variação de 4,5% no IPCA. Para 2007, porém, a mudança na premissa dos juros fez subir a previsão. No cenário de referência, a inflação projetada saiu de 3,6% para 3,9%, ainda assim inferior ao centro do intervalo da meta - 4,5%. No cenário de mercado, subiu de 5,3% para 5,4%, dentro do intervalo da meta, que tolera até 6,5%. Bevilaqua destacou que as expectativas do mercado em relação à trajetória do IPCA estão cada vez mais próximas da trajetória da meta. Isso significa, segundo ele, eficiência da política monetária.