Título: Taxa de investimento é a maior desde 97
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Brasil, p. A3

A taxa de investimento da economia brasileira fechou o ano de 2005 em 19,9%, ligeiramente maior que a do ano anterior (19,6%), segundo números divulgados ontem pelo IBGE. Foi a maior taxa desde os mesmos 19,9% de 1997, mas ainda assim está muito aquém do mínimo necessário para sustentar um crescimento econômico acima de 4% ao ano, estimada pela maior parte dos economistas em pelo menos 25%. O valor do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado foi de R$ 1,938 bilhão, e a renda per capita (PIB dividido pela população) alcançou R$ 10.520 (mais 0,8%). O crescimento de 3,1% do consumo das famílias foi a principal razão para a queda da taxa de poupança bruta de 23,2% para 22,2%. Como o crescimento dos investimentos (1,6%) no ano passado ficou abaixo da variação do PIB no mesmo período, a economista Maria Laura Muanis, da gerência de Contas Nacionais do IBGE, disse que o aumento da taxa, correspondente ao valor dos investimentos (R$ 385,9 bilhões) em relação ao PIB total, ocorreu porque os preços dos bens para investimentos subiram mais do que a média geral. Enquanto o deflator implícito, o índice de inflação das contas nacionais, do PIB foi de 7,2%, o dos investimentos chegou a 9,6%. O economista Alex Agostini, da Austin Rating, disse que mesmo com o os investimentos tendo crescido 1,6%, ante 10,9% em 2004, o desempenho positivo do indicador pelo menos acentua que "nem tudo está perdido". Mas ele admite que o Brasil ainda está muito longe em termos de taxa de investimento de países com os quais é freqüentemente comparado, como a China e a Índia, que investem, segundo ele, em torno de 30% do PIB por ano. Segundo o economista, em 2006 os investimentos em novos projetos só deverão ser acelerados no segundo semestre, sendo o aumento da produção industrial na primeira metade do ano impulsionado pelo maior uso da capacidade instalada. Ele estimou que somente em 2007 a taxa de investimentos brasileira estará alcançando 21%. Agostini é autor de um trabalho, com base em números do Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo o qual o valor da economia brasileira em dólares no ano passado foi de US$ 796 bilhões, valor que a fez saltar do 15º lugar em 2004 para o 11º lugar no ano passado entre as maiores economias do mundo. Segundo o trabalho, a economia brasileira, beneficiada pela valorização do real em relação ao dólar americano (14,15% no ano), ultrapassou as do México, da Índia, da Austrália e da Holanda. A simples comparação de valores do PIB convertidos para o dólar é criticada por muitos analistas por não levar em conta o poder de compra doméstico da moeda de cada país. Isso faz com que os números sejam usados com reserva. Dependendo da fonte utilizada, os rankings também podem ser diferentes. Trabalho feito pela GRC Visão Consultoria, baseado em números do FMI, do Banco Mundial e de outras três fontes mostra que o Brasil passou do 12º para o 10º lugar entre as maiores economias do mundo, logo abaixo da Espanha, 8ª colocada do ranking da Austin. Em ambos os trabalhos, outros aspectos realçados advertem que não há muito o que comemorar. Segundo a Austin, embora pela simples conversão ao dólar a economia brasileira tenha superado a do México e voltado a ser a maior da América Latina, a renda per capita de US$ 4,322 situa-se apenas na 72ª posição mundial, abaixo de vários países latino-americanos, como a Argentina (71º) e o próprio México (54º). A GRCVisão lembra que o país cresceu apenas 2,3%, abaixo de praticamente todos os países latino-americanos. Os números do PIB divulgados ontem revelam também o tamanho da crise que atingiu o setor agropecuário brasileiro no ano passado. Mesmo tendo crescido em volume 0,8% em relação a 2004, a agropecuária contribuiu em valores correntes (sem desconto da inflação) com apenas R$ 145,8 bilhões para a composição do PIB total do ano, enquanto em no ano anterior ela havia participado com R$ 159,6 bilhões, uma queda nominal de 8,7%. "Os números corroboram toda a discussão que ouvimos em 2005 a respeito do mau desempenho da agropecuária", disse Rebeca Palis, gerente das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE. Para Jason Vieira, economista da GRCVisão, as principais razões da crise agrícola foram a seca no Sul do país, a febre aftosa e problemas no crédito rural, além do câmbio desfavorável, compensado pelo barateamento dos insumos (fertilizantes) e melhoria de alguns preços. Com o mau desempenho, a participação da agropecuária no total do PIB caiu de 10,1% em 2004 para 8,4% no ano passado. Já a participação da indústria atingiu 40% do total pela primeira vez desde 1995, quando começou a atual série histórica dos pesos setoriais no PIB, livre dos efeitos da hiperinflação. O peso da indústria vem crescendo continuamente desde 1999, quando era de 35,6%.