Título: Ministro reafirma compromisso com controle de gastos
Autor: Cristiano Romero e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Brasil, p. A4

Em seu segundo dia de trabalho no comando do Ministério da Fazenda, Guido Mantega revelou que vai fazer uma análise detalhada de todos os gastos do governo federal para identificar o que poderá ser reduzido. Mas alertou que, " evidentemente " , esses cortes não vão prejudicar programas sociais. Mantega negou ser um ministro " gastador " e disse que ninguém deve temer pela austeridade fiscal. Ele lembrou que, nos dois primeiros anos do mandato do governo Lula, foi ministro do Planejamento. Em 2003, comandou o contingenciamento de R$ 14 bilhões. " Tenho prática em fazer reduções de despesas " , avisou. Entre os assuntos mais polêmicos da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que será realizada hoje, está a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). Há pouco tempo, quando presidia o BNDES, Mantega defendia um corte dos atuais 9% ao ano para 7%. Explicava sua posição alegando que houve redução do risco-país e também da expectativa de inflação. Esses são os componentes da TJLP. Mas ontem, em rápida entrevista ao chegar ao ministério, o novo ministro da Fazenda afirmou que quando estava no BNDES, " cuidava de determinadas coisas e, no Ministério da Fazenda, cuido de outras " . A reunião mensal do Conselho Monetário Nacional (CMN) foi adiada de ontem para hoje. Mantega justificou a mudança alegando que precisava de mais tempo para analisar os assuntos em pauta. Integram o CMN os ministros da Fazenda, do Planejamento (Paulo Bernardo) e o presidente do Banco Central (Henrique Meirelles). Mantega disse ontem que não deve haver preocupação com a questão fiscal porque cumprirá rigorosamente a meta de superávit primário - 4,25% do PIB - e será o principal defensor desse objetivo. " Não há a menor preocupação com relação a isso. Cumpriremos a meta. Entregarei esse serviço e essa é uma função básica desse ministério. A redução do gasto facilita a queda dos juros. Portanto, devemos zelar para que isso aconteça " , afirmou Mantega. Na sua primeira entrevista coletiva, dada na terça-feira, logo após a posse, Mantega descartou a adoção de um plano fiscal de longo prazo como foi defendido pelo seu antecessor e pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. A proposta foi marcada por um desgastante processo, com resistência pública da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, aos estudos sobre ampliação do superávit. Palocci e Paulo Bernardo ficaram isolados ao recomendar que o governo adotasse um compromisso de reduzir gradativamente as despesas correntes. Além disso, seria garantido um superávit primário relevante: os atuais 4,25% do PIB ou mais. Por outro lado, para dar mais flexibilidade ao orçamento federal, o plano previa um aumento da desvinculação de receitas da União (DRU). " Não há plano fiscal de longo prazo. Nossa política fiscal já é austera. Somos responsáveis e gastamos adequadamente os recursos dos contribuintes " , informou Mantega na terça-feira. De acordo com o resultado fiscal do governo central nos dois primeiros meses deste ano, houve aumento de R$ 5,7 bilhões (19%, nominal) das despesas do Tesouro em relação a igual período de 2005. Elas corresponderam a 11,24% do PIB, contra 10,35% no mesmo período do ano passado.