Título: Kawall e Appy são definidos para a equipe de Mantega
Autor: Cristiano Romero e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Brasil, p. A4

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que o economista Carlos Kawall será o novo secretário do Tesouro Nacional. Mantega decidiu também remanejar Bernard Appy da Secretaria de Política Econômica para a Secretaria-Executiva, cargo que havia ocupado entre janeiro de 2003 e abril de 2005. O ministro informou ainda que anunciará o restante de sua equipe na próxima semana e deixou claro que poderá fazer mudanças. "Cheguei apenas ontem (quarta-feira) ao Ministério da Fazenda. Ainda não conversei com cada um deles (dos secretários), mas pretendo ter uma conversa longa para confirmar ou não a sua presença", avisou o ministro, acrescentando que, além de Murilo Portugal (secretário-executivo desde abril de 2005) e Joaquim Levy (titular do Tesouro Nacional desde janeiro de 2003), nenhum dos outros secretários pediu demissão. Segundo apurou o Valor, o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, será mantido no cargo. Rachid é funcionário de carreira da Receita e ocupa o comando do fisco desde o início do governo Lula. Mantega ainda conversará com os secretários de Acompanhamento Econômico, Helcio Tokeshi, e de Assuntos Econômicos, Luiz Pereira da Silva, e com o procurador-geral da Fazenda Nacional, Manoel Felipe Rêgo Brandão. De todos esses, existe a possibilidade de Luiz Pereira deixar o posto. A razão seria o fato de Pereira ter uma visão sobre abertura da economia considerada excessivamente liberalizante pelo novo ministro. Quando comandou o Ministério do Planejamento, Guido Mantega tinha como secretário de Assuntos Internacionais o economista José Carlos Miranda, que permaneceu no posto mesmo após a transferência de Mantega, em novembro de 2004, para o comando do BNDES. Diante dos rumores de que Miranda poderia trabalhar na Fazenda, seu atual chefe, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, conversou com ele ontem e obteve a garantia de que ele permanecerá no atual cargo. Bernardo teve a mesma conversa com o atual secretário-executivo do Planejamento, João Bernardo Bringel, também ligado a Mantega. Bringel assegurou igualmente que ficará no cargo. Para o lugar de Appy, Mantega nomeou, em caráter temporário, Otávio Ribeiro Damázio, atual secretário-adjunto de Política Econômica. O novo secretário do Tesouro, Carlos Kawall Leal Ferreira, tem 45 anos, é graduado em economia pela USP (1982) e mestre pelo Instituto de Economia da Unicamp (1987). Sua dissertação tratou da política industrial e tecnológica voltada para o setor de automação industrial. Ele deixa a diretoria financeira e de mercado de capitais do BNDES, onde trabalhou desde fim de 2004. Antes disso, exerceu, durante oito anos, o cargo de economista-chefe do Citibank. Sua experiência profissional antes do Citigroup inclui a assessoria econômica da presidência da Eletropaulo, em 1996, e da diretoria financeira da Cesp, em 1995. De 1991 a 1994, Kawall foi assessor da vice-presidência de investimentos do Banespa. Há 18 anos é professor da PUC-SP. Sua indicação foi bem recebida no meio econômico oficial, já que é tido como experiente no trato das questões financeiras e será o principal gestor da dívida pública. Kawall deverá prosseguir na substituição gradual da dívida atrelada à taxa Selic por papéis pré-fixados e indexados a índice de preços, tornando a dívida menos vulnerável às variações da taxa de juros. Ele é favorável à utilização dos "swaps" reversos pelo BC, papéis que trocam a variação cambial pela da Selic, e cuja função é evitar valorização mais acentuada do câmbio. Bernard Appy tem 44 anos e é graduado em economia pela USP, com mestrado na Unicamp. Antes de trabalhar no governo, foi sócio da empresa de consultoria LCA, do economista Luciano Coutinho, entre 1993 a 2002. De 1989 a 1991, foi assessor da liderança do PT na Câmara dos Deputados. As mudanças promovidas por Mantega têm valor simbólico. Elas encerram o longo predomínio, iniciado em maio de 1993, quando Fernando Henrique Cardoso montou a equipe de economistas que formularam o Plano Real, da PUC do Rio de Janeiro no comando do Ministério da Fazenda. Agora, prevalecem economistas formados na USP e na Unicamp.