Título: Conselho de Ética aprova relatório que recomenda cassação de Mentor
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Política, p. A6

O Conselho de Ética aprovou ontem o relatório substituto elaborado pelo deputado Nelson Trad (PMDB-MS) no qual é pedida a cassação de José Mentor (PT-SP). O colegiado havia derrubado o texto apresentado pelo relator original, Edmar Moreira (PFL-MG), que pedia a absolvição do petista das acusações de recebimento de R$ 120 mil do valerioduto e de ter beneficiado o Banco Rural nas investigações da CPI do Banestado. Ontem, o substitutivo foi aprovado por nove votos a quatro. O resultado, curiosamente, foi distinto daquele da última quinta-feira, quando o Conselho rejeitou a absolvição de Mentor por oito votos a seis. A alteração se deveu basicamente ao PP. Na semana passada, os dois integrantes do partido votaram pela absolvição de Mentor. Ontem, a legenda tinha apenas um integrante no colegiado, Benedito de Lira (AL). E o alagoano, para surpresa de todos, votou a favor do texto de Trad. Em justificativa depois da sessão, Lira disse que não cabia aos conselheiros debater o mérito do processo na manhã de ontem, mas apenas aprovar a melhor redação do relatório. E ele aprovou o texto. Em seu relatório, Trad procurou desmontar o principal álibi de Mentor. O petista alega que recebeu R$ 120 mil das empresas de Marcos Valério de Souza em função de serviços jurídicos prestados: três pareceres das áreas trabalhista, tributária e licitatória. O relator demonstrou que o escritório de Mentor não possui nenhum especialista nesses segmentos do Direito. E desqualificou os pareceres, classificando-os como "banais e genéricos". O relator também criticou a ausência de testemunhas para corroborar a versão da realização dos pareceres. Para Trad, apesar de não poder ser provado o beneficiamento ao Rural na CPI do Banestado, da qual Mentor era o relator, o deputado não poderia ter aceitado um trabalho jurídico contratado por Marcos Valério. O empresário tem relações íntimas com o banco. "O deputado José Mentor sabia quem era Marcos Valério e, sendo relator da CPI do Banestado e deputado influente no Congresso, não podia ter patrocinado, ainda que por intermédio de seu escritório, causa de interesse de tal lobista", escreveu o relator. E completou: "No plano do decoro, mostra-se reprovável a participação do representado (Mentor) em condutas tais". Não se sabe agora quando o processo de Mentor irá a plenário. Na última quarta-feira, Aldo preferiu não colocar o processo contra o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) em votação no plenário. O presidente da Câmara tem pautado sempre duas votações ao mesmo tempo, sempre às quartas-feiras. Aldo preferiu aguardar o desenrolar do processo contra Mentor e colocar os dois petistas em julgamento na mesma data no plenário. Ricardo Izar, presidente do Conselho de Ética, sempre foi contra essa votação dupla no mesmo dia e avaliou que Aldo resolveu proteger João Paulo de ser exposto em votação isolada. Ontem, Izar falou com alguns integrantes do conselho que só enviaria o processo de Mentor à Mesa Diretora na segunda-feira. Assim, não haverá prazo para o caso do petista entrar já na quarta-feira, e Aldo terá de optar entre adiar mais uma vez o julgamento de João Paulo ou colocá-lo em votação isoladamente.