Título: PT fará relatório paralelo na CPI
Autor: Raquel Ulhôa e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Política, p. A7

O PT, com apoio de partidos aliados, decidiu apresentar na CPI dos Correios um relatório paralelo ao do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Vista como estratégia do governo para atrapalhar a aprovação de um relatório final da CPI, a iniciativa foi criticada pela oposição e até pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A votação está marcada para terça-feira e promete ser muito tumultuada. Durante os nove meses de trabalho da CPI, o governo teve uma maioria apertada. Ruy Baron/Valor - 1/12/2004 Entre outras alterações, os governistas vão contestar a tese de que o mensalão existiu como relação de compra de um poder (Legislativo) pelo outro (Executivo). Também pretendem alterar os indiciamentos propostos e explicitar no texto que a origem do "valerioduto" é anterior ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. "No nosso relatório tem caixa dois com repasse ilegal pelo PSDB de Minas Gerais e de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT) no nosso governo. No nosso ponto de vista, é o correto", afirmou o líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS). Ele anunciou a decisão do PT após reunião com o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), e petistas que integram a CPI. Segundo o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) os fatos ocorridos no governo Fernando Henrique Cardoso foram diluídos no trabalho de Serraglio. A iniciativa dos petistas foi interpretada pela oposição e por parlamentares da própria base aliada como tentativa de inviabilizar a aprovação de um relatório final pela CPI. Em 2004, o presidente da CPI do Banestado, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) apresentou relatório paralelo ao do relator, deputado José Mentor (PT-SP), e, depois de muito enfrentamento político, nada foi votado. O presidente do Senado manifestou preocupação com a possibilidade de o PT lançar um substitutivo. Ele defende a correção de "qualquer imprecisão" no relatório de Serraglio, pela via da negociação. "O que está em jogo é a imagem do Congresso. Só pelas respostas que o relatório tenta dar é que nós poderemos resgatar a credibilidade do Congresso. Temo que haja a repetição do que aconteceu com a CPI do Banestado, o que prejudicou em muito a imagem do Congresso", disse. Para ele, o relatório é conclusivo, define responsabilidades e aponta para as investigações que deverão continuar na polícia e no Judiciário. Os rumores de que o governo e o PT estariam tentando "melar" o relatório da CPI foram rechaçados pela líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). "Queremos mudanças, mas não queremos inviabilizar um relatório final. Pode até ser que alguém queira, mas, para o PT, mais esse desgaste seria péssimo. Já pagamos um preço alto nesse episódio e não vamos acumular mais a responsabilidade por patrocinar uma pizza", afirmou. Os petistas criticam os critérios dos indiciamentos propostos pelo relator. Para eles, Serraglio usou dois pesos e duas medidas no tratamento do senador Eduardo Azeredo (MG), ex-presidente do PSDB, e dos ex-ministros José Dirceu e José Gushiken, por exemplo. O indiciamento pedido para Azeredo foi por crime eleitoral, o que já está prescrito. Para os petistas, ele tem de ser indiciado por sonegação fiscal. Dirceu, apontado como coordenador das decisões a respeito dos empréstimos de Marcos Valério ao PT e do esquema do mensalão, foi indiciado por corrupção ativa. Gushiken, acusado de interferência sobre fundos de pensão, foi indiciado por tráfico de influência e corrupção ativa. "O que se está contestando é que o relatório não tem amparo legal para os indiciamentos. Tratou aliados do governo Lula e do governo FHC de forma diferente. Parece que há vontade política de indiciar", afirmou o líder do PL na Câmara, deputado Luciano Castro (RR). O líder do PT disse que o voto em separado terá um "critério universal" de indiciamento, que valha para aliados e para a oposição. A oposição, que defende o relatório de Serraglio, prepara emendas, com a intenção de marcar posição. A idéia é tentar evitar o confronto, por temer que a estratégia do governo seja impedir a votação do relatório final até o encerramento da CPI, na primeira quinzena de abril. "A idéia é não perder o relatório do Osmar. Ficar contra significa apoiar a impunidade", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Em suas emendas, o PSDB quer sugerir o indiciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - poupado de responsabilidade pelo relator. Como integrante da base do governo, Serraglio chegou "ao seu limite" com o relatório, na opinião do líder do PFL no Senado, José Agripino (RN). Agripino critica o fato de o deputado estadual do PT do Ceará José Nobre Guimarães, pego com dólares na cueca, ter ficado fora do relatório. "Ele é um dos ícones de toda a novela", diz. Até terça-feira, petistas vão trabalhar 24 horas, na elaboração do voto em separado. A expectativa é de um confronto acirrado entre governistas e oposicionistas durante a votação. (Colaborou Thiago Vitale Jayme).