Título: Delfim avalia que Mantega é confiável
Autor: Raymundo Costa e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Política, p. A12

Lideranças governistas no Congresso minimizaram as resistências que o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, poderá encontrar no empresariado. "É um absurdo falar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está com falta de lastro. Mantega como ministro do Planejamento controlou o Orçamento como ninguém em 2003. Não é risco para ninguém", disse o deputado e ex-ministro da Fazenda e do Planejamento, Delfim Netto (PMDB-SP). Segundo Delfim, além de Mantega ser confiável, Lula teria dado a maior prova de sua intenção de manter os compromissos com a ortodoxia econômica ao garantir ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, autonomia de ação. "O Lula deu ao BC a liberdade para que eles façam a bobagem que quiserem. O presidente é um intuitivo, sabe da importância de mostrar compromisso com o equilíbrio fiscal", disse. Crítico da política econômica, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), afirmou que não acredita em mudanças. "A política econômica do Brasil é sempre do presidente da República. Achar que a política vai mudar porque muda o ministro da Fazenda? Muda quando o presidente quer que ela mude", disse o presidente da Câmara. Para Aldo, "os fundamentos da política econômica não foram alterados em relação ao governo Fernando Henrique e isto não se deu porque dois ou três técnicos queriam assim. Havia no país, na sociedade, no Congresso e na imprensa, uma certa segurança de que assim seria melhor. A equipe econômica não tem a importância que lhe querem dar", disse. Apesar das declarações públicas de que não há expectativas de mudança este ano, os críticos da política econômica que apóiam o governo federal consideram que a escolha de Mantega já é um sinal de que o presidente não irá persistir na política adotada pelo ex-ministro Antonio Palocci. O sinal eloqüente disso seria a não-indicação do ex-secretário-executivo do ministério, Murilo Portugal, conforme agentes do mercado financeiro esperavam que ocorresse. Para um eventual segundo mandato, especula-se em torno de nomes como o do ex-ministro do Planejamento, João Sayad e do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), caso este permaneça na Casa. Temia-se ainda que Palocci exercesse um papel coordenador na campanha de Lula. Com a saída do ex-ministro de cena, este papel deve ficar descentralizado em um colegiado de aliados.