Título: Tarso vai para a coordenação política
Autor: Raymundo Costa e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Política, p. A12

Um ministério de secretários-executivos, até segunda ordem, é o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncia hoje, em substituição aos ministros que deixam o cargo para se candidatar às eleições de outubro. A exceção é o ex-ministro da Educação Tarso Genro, que volta ao governo na condição de ministro das Relações Institucionais. Lula pensava em nomeá-lo para a Pasta da Defesa, do vice-presidente José Alencar, e manter Jaques Wagner no posto. Mas Wagner sai para se candidatar e os aliados do presidente no Congresso pressionaram para que Tarso Genro fosse designado para a coordenação política, sob o argumento de que a Defesa o deixaria politicamente imobilizado. "Não tivemos uma conversa técnica sobre a pasta, mas política", disse Genro depois da reunião com Lula. "A nossa tarefa é permitir com que, neste ano eleitoral, possamos manter a estabilidade institucional e de governo". Num primeiro momento, o presidente deve promover os secretários-executivos dos ministérios. Por isso ele ainda não chamou os partidos que o apóiam para conversar sobre as substituições. Pelo menos três secretários-executivos devem ser efetivados, posteriormente: o de Esportes (Orlando Silva de Jesus Júnior), o da Integração Nacional (Pedro Brito do Nascimento) e o do Desenvolvimento Agrário (Guilherme Cassel). Lula acertou a permanência deles com os titulares que estão deixando o cargo: Agnelo Queiroz, Miguel Rossetto e Ciro Gomes, respectivamente. O presidente Lula tem problemas para preencher ministérios das cotas do PMDB e do PL. No Ministério dos Transportes, o ministro Alfredo Nascimento pediu pela manutenção de seu secretário-executivo Paulo Sérgio Oliveira Passos, mas o PL tem pelo menos outros três nomes reivindicando a vaga. O mesmo ocorre com o PMDB em relação ao Ministério da Saúde, cujo titular, deputado Saraiva Felipe, deve disputar um mandato por Minas Gerais, talvez até mesmo como candidato a vice do governador Aécio Neves (PSDB). O grupo governista acusa Saraiva Felipe de ter se bandeado para a oposição na disputa interna do partido, na disputa travada em torno das prévias partidárias e da liderança do PMDB na Câmara. Há pelo menos quatro candidatos ao posto de Saraiva Felipe: o ex-deputado Paulo Lustosa (CE) e o senador João Alberto (MA), ambos ligados ao senador José Sarney, e os deputados Jorge Alberto (SE) e Marcelo Castro (MG). Mas tanto Sarney quanto o presidente do Senado, Renan Calheiros, não foram chamados por Lula para discutir as mudanças na equipe e o espaço que será reservado ao partido. Sete dos oito ministros que devem se desincompatibilizar conversaram ontem com Lula. Foram eles: Jaques Wagner (Coordenação Política), Alfredo Nascimento (Transportes), Saraiva Felipe (Saúde), Ciro Gomes (Integração Nacional), Wilson Fritsch (Pesca), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e José Alencar (Defesa). A conversa com Agnelo Queiroz (Esportes) ficou para hoje. Lula pediu a alguns ministros para permanecer no posto, mas só demoveu Marina Silva (Meio Ambiente) e Hélio Costa (Comunicações). O presidente pediu para o ministro Jaques Wagner permanecesse à frente do Ministério das Relações Institucionais. O ministro agradeceu, mas argumentou com seu projeto político na Bahia. Os dois conversaram novamente na manhã de ontem - a terceira vez só nesta semana. O presidente reiterou o pedido para que o ministro permanecesse mas Wagner manteve firme a disposição de disputar o governo da Bahia. Um anúncio de apoio de última hora pesou para que Wagner não abrisse mão de sua candidatura: na noite de quarta-feira, o prefeito de Salvador, João Henrique, desistiu de concorrer ao governo e declarou apoio ao ministro de Lula. Segundo assessores políticos do governo, apesar da contrariedade, Lula liberou o ministro, mas afirmou que espera contar com ele na equipe que coordenará sua campanha à reeleição em outubro. Com a saída de Wagner, o nome mais forte para tornar-se coordenador político passou a ser o de Tarso Genro. Lula e Wagner ainda teriam uma conversa no final da tarde de ontem, mas a assessoria do Planalto não confirmou se Tarso já participaria do encontro. O petista gaúcho foi informado há cerca de um mês que retornaria à Esplanada, de onde saiu para ocupar interinamente a presidência do PT, durante a crise que sucedeu a renúncia do ex-deputado José Genoino. O nome do governador do Acre, Jorge Viana, chegou a ser cogitado, mas a proibição, pela Justiça Eleitoral, da candidatura do senador Tião Viana (PT-AC) ao governo estadual, inviabilizou a opção por Jorge. "Como as alianças ficaram indefinidas, o Jorge preferiu continuar governador para concluir as ações do governo e definir quem será seu candidato à sucessão".