Título: Capacitação da China preocupa o setor no Brasil
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Internacional, p. A13

O poderio da China no setor automotivo preocupa os representantes das montadoras e da indústria de autopeças também no Brasil. A maior ameaça no momento é de o Brasil perder para os chineses os investimentos que as montadoras preparam para expandir produção nos países emergentes. Mas a questão das peças também já preocupa o setor. A exportação de peças do Brasil para a China vem caindo. No primeiro bimestre, essas vendas tiveram queda de 30,27% em relação a igual período de 2005, para US$ 19,3 milhões, segundo o Sindicato Nacional de Componentes Automotivos (Sindipeças). No acumulado de janeiro e fevereiro do ano passado, o total chegou a US$ 27,7 milhões. A China não é um mercado importante para o setor, respondendo por só 1,65% das vendas externas da indústria de autopeças. Por isso, o Brasil deve se manter distante da reclamação de europeus e americanos. Mas, enquanto as exportações caem, as importações de peças chinesas crescem cada vez mais, o que já começa a preocupar os representantes do setor. No mesmo período de janeiro e fevereiro, subiu 55,38% a compra de peças chinesas (em relação a 2005), num total de US$ 30,1 milhões. O valor indica que a balança comercial no setor de autopeças, antes favorável ao Brasil, virou. Os chineses aprenderam com os brasileiros a fabricar automóveis. Assim foi com o Santana e Gol, dois modelos de origem brasileira. Há até pouco tempo, o Gol ainda era montado na China com componentes brasileiros. Mas o contrato foi interrompido antes do final e o Gol deixou de ser fabricado na China, mercado que já conta com modelos similares feitos no país. Os chineses querem continuar a aprender com os brasileiros. A Lifan, fabricante de veículos e motores, expôs interesse recentemente em comprar todos os equipamentos da Tritec, fábrica de motores instalada em Campo Largo (PR), fruto de joint-venture entre Chrysler e BMW que tende a terminar. Há poucos dias, Yufeng Sun, representante da Lifan que veio ao Brasil, disse ao Valor que a empresa não quer mais importar. "Queremos aprender a fabricar motores e veículos que ainda não temos."