Título: Bolívia pode não elevar venda de gás ao Brasil
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Internacional, p. A13

A Bolívia respondeu ontem à Petrobras e ameaçou não ampliar as exportações de gás natural se o Brasil não aceitar mudanças de regra que o país vai introduzir. "Assim como o Brasil diz que não fará mais investimentos se as regras do jogo não lhe convierem, digo ao Brasil que também não haverá incremento nos volumes de venda de gás", disse o ministro boliviano de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz. Ele advertiu que em cinco anos o Brasil precisará importar 100 milhões de metros cúbicos diários de gás para suprir a expansão da indústria. "Achamos que a Bolívia tem uma posição lógica e coerente ao afirmar que novas exportações não se realizarão com os preços atuais." O ministro, entretanto, não disse que preço ele considera justo. Nem há ainda uma definição do novo marco regulatório. As declarações do ministro foram uma resposta à entrevista dada anteontem pelo presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, que se disse preocupado com declarações de autoridades bolivianas (justamente de Soliz) e que a empresa poderia adiar decisões de novos investimentos na Bolívia. "Se nós formos submetidos a decisões unilaterais, vamos reagir unilateralmente", disse Gabrielli. Dias antes, o ministro boliviano havia dito que o Brasil tratava a Bolívia como "semicolônia" e que a Petrobras pagava mal seus empregados no país. Soliz chegou a comparar os brasileiros com "capatazes" fazendo os bolivianos trabalharem a temperaturas insalubres. Um dos principais problemas é que o novo presidente, Evo Morales, quer que as petroleiras estrangeiras atuem apenas como prestadoras de serviço de extração. O produto, gás ou petróleo, seria do Estado. Gabrielli disse que a Petrobras é uma empresa produtora, e não quer ser prestadora de serviço. A Petrobras é a maior empresa da Bolívia e já investiu mais de US$ 1,5 bilhão no país. Em outra provocação à empresa brasileira, Soliz afirmou que ela deveria aceitar um auditoria independente para verificar se realmente investiu no país o que diz ter investido. Segundo Soliz, a Bolívia poderia dobrar as exportações para o Brasil, mas que isso dependeria da melhora dos preços. Ele ressaltou que não pararam as negociações com a Petrobras. Mas, diz Gabrielli, as conversas estariam estagnadas.