Título: As polivalentes que já ganharam mesmo antes da decisão
Autor: Talita Moreira e João Luiz Rosa
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Empresas &, p. B4

O governo ainda não anunciou qual será o modelo de TV digital, mas, independentemente da decisão - e de quando será anunciada, dados os recorrentes adiamentos -, um grupo de seis multinacionais já pode se declarar vencedor. Elas são as únicas empresas preparadas para fornecer equipamentos, incluindo os conversores de TV, para quaisquer dos padrões existentes, não importa se o europeu, o japonês ou o americano. Isso não quer dizer que elas irão, necessariamente, investir em produção no Brasil, mas a oportunidade já está garantida. O que chama a atenção é que, dessas seis companhias, cinco são japonesas: Mitsubishi, Panasonic, Sanyo, Sony e Toshiba. A única de fora é a alemã Rohde & Schwarz. No caso dos japoneses, trata-se de unidades de negócio específicas de gigantes que produzem de eletrônicos de consumo a automóveis. A Rohde & Schwarz é uma empresa de porte menor e concentrada em equipamentos para radiodifusão e comunicações via rádio. A lista baseia-se em levantamento feito pelo consórcio europeu, que analisou 108 empresas. Segundo o trabalho, há 82 companhias aptas a fornecer tecnologia no padrão europeu (conhecido como DVB) e 16 no japonês (ISDB). Os dados mostram que o DVB tem um número maior de fornecedores, um argumento usado pelos europeus como evidência de que o padrão oferece mais opções ao país, o que evitaria uma dependência de poucas empresas. Com mais escala, dizem eles, os equipamentos ficam mais baratos. Os fabricantes japoneses são poucos porque o Japão protege seu mercado doméstico e nenhum outro país utiliza o ISDB, observa Mario Baumgarten, diretor de tecnologia da alemã Siemens e representante da companhia no consórcio europeu. "O modelo de negócios da TV digital européia pressupõe um padrão aberto." Porém, uma outra leitura do estudo mostra que os japoneses tiveram habilidade para se diversificar e adaptar-se a qualquer cenário. "São companhias globais, que tiveram de se preparar para atender ao padrão requerido em cada região", diz Yasutoshi Miyoshi, representante do consórcio japonês. Essa diversificação teria dois motivos : o fato de que o padrão japonês até agora só foi adotado no próprio país, o que restringe a possibilidade de negócios, e a própria cronologia de surgimento das tecnologias. Como o ISDB foi o último a aparecer, as empresas puderam para se adaptar aos sistemas internacionais antes de incorporar o modelo adotado em casa. "O primeiro padrão foi o americano, seguido do europeu. O japonês é mais recente e, por isso mesmo, foi possível corrigir coisas que estavam deficientes nos sistemas anteriores, como a transmissão para receptores móveis", diz Ricardo Katsumi Uotani, gerente de marketing da Panasonic, que integra a lista das polivalentes. Baumgarten, da Siemens, pondera que nem sempre é de interesse dos fabricantes de outros países encaixar-se no sistema japonês, pois ele tem pouca escala. Apesar de estar apta a qualquer sistema, a alemã Rohde & Schwarz também segue o raciocínio do volume de produção. "Temos todas as tecnologias, mas, levando em conta a diversificação, o melhor seria o europeu", diz o presidente, Heitor Vita. Se o DVB for escolhido, a empresa estudará a possibilidade de erguer uma fábrica no Brasil ou na Argentina. "Se for o japonês, essa decisão levará mais tempo." No entanto, qualquer sistema significará mais negócios. Vita prevê que a TV digital elevará de 10% a 20% a receita da companhia, de R$ 150 milhões no último ano. Para Uotani, da Panasonic, há muita discussão sobre o padrão, mas nenhum sinal do cronograma a ser estabelecido depois da decisão. No caso dos conversores digitais, que precisam ser acoplados aos televisores, o mais provável é que os primeiros modelos sejam importados, com algum grau de nacionalização, diz, e só depois haveria produção local. A empresa tem uma fábrica em Manaus onde produz TVs convencionais, DVDs, telefones e aparelhos de áudio. No próximo ano fiscal, que começa em abril, deve ter início a produção de TVs de plasma, gravadores de DVD e câmeras digitais.