Título: Arroz ganha espaço em lavouras do Centro-Oeste
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 26/11/2004, Agronegócios, p. B-10

A decisão de ampliar em 10% a área de cultivo de grãos para a próxima safra já havia sido tomada pelo agricultor goiano Aguilar Mota. Há um ou dois anos, não haveria dúvidas sobre o que plantar nas terras novas: soja. Mas, entre o certo e o duvidoso, Mota preferiu continuar apostando na estabilidade do arroz em detrimento da produção do grão mais badalado, que enfrenta aumento nos custos de produção e preços externos em baixa. Este ano, Mota está destinando 480 hectares para o arroz, 100 a mais que na safra recém-colhida. Para a soja, um aumento menor, de 350 para 400 hectares. "O arroz é uma cultura de pouco risco, tem pouca influência do mercado externo, dá estabilidade para o produtor e o retorno é mais previsível do que a soja". Mota planta arroz há seis anos em Santo Antônio da Barra e Rio Verde. Na região de Sinop (MT), tradicional produtora de soja, muitos agricultores também tomaram decisão semelhante. Foi o caso de Edson Melozzi, que vai plantar este ano os mesmos 2 mil hectares de arroz que plantou no ano passado. Nada de aumentar a área de soja, que continuará com 5 mil hectares. "Como não sabemos o que vai acontecer com a soja, o arroz continua sendo uma boa opção. O mercado está estável, o preço está melhor que o da soja", disse ele. Com os baixos preços da soja, manter ou ampliar o cultivo de arroz é decisão estratégica dos produtores do Centro-Oeste, única região onde o cultivo do cereal deve crescer na próxima safra. Enquanto o Rio Grande do Sul -- maior produtor nacional de arroz - deve reduzir a área de plantio em até 12%, segundo a Conab, a área plantada no cerrado crescerá de 2,7% a 4,5%. Só em Goiás, a área utilizada para as lavouras de arroz deve ficar até 11% maior e a produção pode chegar a 2,5 milhões de toneladas, pouco mais de 20% da produção nacional estimada para 2005, de até 12,1 milhões de toneladas. O arroz de sequeiro plantado no Centro-Oeste tem características que ajudam a explicar o interesse do produtor. Resistente e facilmente adaptável às terras ácidas do cerrado, o arroz é plantado principalmente nas terras desmatadas, para corrigir o solo. Como se diz no campo, o arroz "amansa a terra" para outras culturas. Também se dá muito bem nas terras degradadas de pastagem. Depois da primeira colheita, geralmente o produtor troca o arroz pela soja. "Quando o preço do arroz está bom, faz-se a opção por um segundo plantio", explicou Eledon de Oliveira, gerente de avaliação de safras da Conab. Ele disse que o arroz do cerrado é do tipo agulhinha, o mesmo plantado no Sul (em culturas irrigadas), com qualidade similar. Este tipo de arroz também está sendo plantado em novas fronteiras do sul do Maranhão e Piauí. O custo de produção do arroz, mais atraente que o da soja, também pesa na decisão do agricultor. "O arroz permite aumento de produtividade sem aumento proporcional de custo", atestou Ângelo Maronezzi, diretor da Agronorte Pesquisa e Sementes, que também representa a Associação dos Produtores de Arroz do Estado. "Vai bem em terras de abertura, na renovação de pastagens e ainda sobra dinheiro para o produtor. E na rotação de culturas, possibilita um sistema sustentável com a soja". Ele destaca o papel da pesquisa. No ano passado, a Agro Norte lançou em nível mundial, em Pequim (China), uma variedade de arroz para terras altas. A Embrapa também desenvolve sementes mais produtivas adaptadas ao cerrado. Nos centros de pesquisa já foram desenvolvidas variedades com potencial para produzir até 7,2 toneladas por hectare, superior a produtividade do Rio Grande do Sul (cerca de 6) e mais do que o dobro da produtividade prevista para o Centro-Oeste no ano que vem (2,8. "Aquele aventureiro que plantava arroz só para domar as terras novas está sendo substituído pelo produtor profissional, que busca a agricultura sustentável e investe em tecnologia", disse Maronezzi. Mas os produtores temem a concorrência do arroz importado de Argentina e Uruguai, mais barato que o nacional, e com a alta doe custos no Brasil. Na rizicultura, Maronezzi afirmou que os agroquímicos estão 25% mais caros e os adubos e calcário, 30%. E a Conab prevê que a próxima safra será colhida com o mercado "bem abastecido" e com os preços "sensivelmente mais fracos".