Título: BC vai manter compra de dólar
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Finanças, p. C1

O Banco Central já adquiriu US$ 34,7 bilhões desde o início de 2004, quando retomou suas intervenções de compra no mercado doméstico de câmbio. Só em 2006, foram comprados US$ 7,894 bilhões, dos quais US$ 3,074 bilhões em março, até dia 28. Apesar da magnitude que já atingiu, o processo de recomposição das reservas cambiais do país deve continuar. A sinalização foi dada ontem pelo diretor de Política Econômica do BC, Afonso Beviláqua, ao defender que "ainda há espaço" para o Brasil aumentar sua resistência a eventuais crises externas. "Podemos nos beneficiar acumulando mais. Isso reduz a probabilidade de que mudanças de humor no cenário internacional afetem a economia doméstica", argumentou. Com o mesmo objetivo, também poderão ser realizadas novas recompras de títulos de dívida externa do país, acrescentou o diretor. Em março, até dia 28, o BC tirou do mercado internacional US$ 1,366 bilhão em papéis brasileiros, elevando para US$ 4,197 bilhões o valor acumulado desde o início do ano. Por causa das intervenções de março, o Banco Central recentemente aumentou de US$ 57 bilhões para US$ 60 bilhões a projeção do saldo das reservas cambiais no final de dezembro de 2006. Salvo uma inesperada inversão do fluxo cambial líquido, porém, Afonso Beviláqua admite que as reservas deverão fechar o ano bem acima disso, pois a projeção não considera a possibilidade de novas compras de abril em diante. O BC não será o único braço do governo a exercer pressão de demanda sobre o mercado cambial nos próximos meses. O Tesouro Nacional planeja adquirir este ano pelo menos mais US$ 2,2 bilhões. Segundo Beviláqua, esse é o montante que falta contratar para cobrir os compromissos de dívida externa do Tesouro em 2006, calculados em US$ 11,3 bilhões. O montante de contratos de câmbio a liquidar é maior. Dos US$ 9,1 bilhões já comprados - parte no ano passado -, só US$ 5,594 bilhões já foram entregues ao Tesouro. As próximas atuações do BC no mercado cambial também incluem a possibilidade de novos leilões para venda de contratos de swap reverso. "Esse é um instrumento à disposição, que será usado, se necessário", disse Beviláqua. Os swaps reversos são operações de troca de índice (variação cambial versus juros) em que o Banco Central assume a posição ativa em câmbio e passiva em juros, perdendo, portanto, se o preço do dólar cair. Os agentes econômicos demandam esse tipo de swap normalmente quando temem maiores quedas do preço do dólar. Nessas situações, ao atender a demanda, o BC retira do mercado um fator de nervosismo, o que ajuda a evitar volatilidade da taxa de câmbio. O diretor do BC destacou que o processo de recomposição das reservas cambiais e o esforço de redução de dívida externa têm proporcionado melhora significativa dos indicadores externos do Brasil, para ele um importante fator de redução do risco atribuído pelos investidores externos ao país e, por consequência, do custo de financiamento. A relação entre o saldo da dívida externa líquida do país e o volume anual de exportações, por exemplo, que já chegou a 3,6 em 1999, estava, ao final de 2005, em 0,9, o menor nível desde 1970. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), de 2002 a 2005, essa dívida recuou de 35,9% para 12,8%, menor relação desde 1996. A relação entre o volume de pagamento de juros externos e as exportações , que atingiu 35,6% em 1999, também baixou, para 12,3% em 2005, o menor nível desde 1971.