Título: Investir é principal alvo da remessa do emigrante do Brasil
Autor: Ricardo Balthazar, Alex Ribeiro e Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Finanças, p. C5

Os emigrantes brasileiros destinam mais recursos para investimentos do que grupos de outros países, segundo estudo divulgado ontem durante a reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Dos rendimentos enviados ao Brasil, 54% vão para investimentos em propriedades, poupança, negócios próprios e financiamento de estudos. No outros países da região, a maior parte dos recursos é enviada para bancar despesas de manutenção de parentes. Segundo pesquisa do Fundo Multilateral de Investimentos (Fomin), do BID, e da consultoria Bendixen & Associates, encontram-se percentuais bem menores de investimentos em outros países da região, como Honduras (23%), Guatemala (32%) e República Dominicana (40%). "Outra característica marcante dos brasileiros é que eles tem mais acesso ao sistema bancário que outros países da América", disse o pesquisador Sergio Bendixen, responsável pelo levantamento. Entre os brasileiros, 61% das remessas são feitas por meio de bancos, enquanto 29% ocorrem por meio de empresas de remessas e 10% por outros caminhos. Na Colômbia, apenas 9% das remessas são feitas por meio de bancos; na Bolívia, 32%; e, na República Dominicana, 2%. Os brasileiros também têm mais contas bancárias que emigrantes de outros países. Seu índice é de 63%, ficando á frente de colombianos (52%), equatorianos (465) e mexicanos (33%). A média das remessa feitas pelos brasileiros é também maior do que a de outros países - chega a US$ 428, enquanto que os mexicanos remetem em média US$ 190, e os peruanos, US$ 166. Uma das principais conclusões a partir desses dados é que os brasileiros têm mais acesso aos canais formais de remessas - o que, pelo menos em tese, significa que têm custos menores para enviar dinheiro. A maior formalização das remessas está relacionada, em parte, ao avanço dos bancos brasileiros nesse mercado. Isso levou a cortes nas tarifas e a criação de meios de menor custo para as remessas, com a automatização e uso da internet. Mas os agentes informais voltaram a avançar. O gerente-executivo da Diretoria Internacional do Banco do Brasil (BB), Eduardo Nascimento, relatou ontem em um dos painéis de discussão da reunião anual do BID que, no segundo semestre de 2005, percebeu um aumento das remessas por canais informais, principalmente nos Estados Unidos. "Os bancos têm dificuldade de competir porque esses agentes não têm os mesmos custos de uma instituição financeira. Além disso, muitos fazem remessas pelo mercado paralelo", disse. Com "spread" maior das taxas, acrescentou, os agentes informais podem oferecer taxas mais competitivas, chegando, muitas vezes a não cobrar tarifas. (AR)