Título: Febre do celular alavanca novos negócios
Autor: Jussara Maturo
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Valor Especial / FRANQUIAS, p. F3

O faturamento das redes de franquia na área de informática, eletrônica e comunicação continua a crescer acima da média registrada pelo setor de franchising como um todo no Brasil. Segundo o diretor de comunicação e marketing da Associação Brasileira de Franchising (ABF) e sócio da empresa de consultoria Francap, André Friedheim, a receita do segmento aumentou cerca de 15%, no ano passado, ante os 13,5% do mercado em geral. Carol Carquejeiro/ Valor Sob essas condições, o segmento de informática e produtos eletrônicos teria faturado até R$ 434 milhões, em 2005. "Em 2006, a expectativa é essa área manter o crescimento nessa faixa de 10 a 15%", assegura o diretor da ABF. Alguns fatores explicam esse bom desempenho, além do fato de ser este um nicho ainda em fase de consolidação. O explosivo consumo de aparelhos celulares no Brasil tem funcionado como uma das principais alavancas dessa expansão. O número de lojas abertas sob a bandeira das operadoras de celulares vem se multiplicando desde 2004, tanto para venda de aparelhos como para assistência técnica. "Cada shopping center tem pelo menos uma loja de cada operadora funcionando. E, como novos shoppings estão previstos para começar a funcionar neste ano, a tendência é de expansão na rede de varejo de celulares", explica Friedheim. Só a Oi, operadora do grupo Telemar, espera encerrar o ano com 200 franquias. A empresa, que atuava via grande varejo e agentes exclusivos, inaugura a primeira loja dentro do sistema de franquia, em maio, informa Denise Garcia, gerente de desenvolvimento de canais de venda. A unidade escolhida para estrear o formato é a do Barra Shopping, no Rio. Segundo Denise, as lojas franqueadas não venderão apenas celulares. "Nosso foco é a convergência de produtos e serviços. Nesses locais, o cliente vai encontrar todos os produtos e lançamentos da Telemar montados em ofertas de bundle como o Velox (serviços de banda larga) associado ao Mix (destinado a clientes em telefonia fixa e móvel), além de outros pacotes", acrescenta a gerente. Aproveitando o know-how adquirido como distribuidora de produtos na área de telefonia, a Ezconet, que vende pela internet aparelhos celulares de todas as marcas e operadoras, além de prestar serviços de logística de entrega para esses fornecedores, lançou há dois anos um sistema de franquias de lojas virtuais sob a marca Zets. O modelo gira em torno da estrutura logística e tecnológica da empresa-mãe, explica Clement Aboulafia, presidente da Ezconet, dona também da rede Celular Mix, com lojas localizadas em shopping centers de São Paulo. Ao longo do tempo, o portfólio de produtos da Zets cresceu. Ao lado da oferta de celulares e seus acessórios, a loja virtual comercializa outros produtos eletrônicos, como câmeras digitais, binóculos, DVDs, produtos de informática e eletrônicos variados. Com essa combinação, a Zets contabiliza 15 franqueados até março, sendo dois master. Um deles é o dentista Roberto de Almeida Fernandes, de Oswaldo Cruz (interior paulista), que criou a Zets Romed. Segundo o empresário, o investimento restringiu-se à taxa de adesão à franquia, que varia entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. A partir daí, ele vende para o Brasil inteiro. "Não tenho as limitações de uma loja física. O estoque, a entrega e o faturamento estão a cargo do franqueador", conta Fernandes, que há um ano contratou a franquia Zets e há seis meses, investiu na compra de uma franquia da Vivo. No caso da Zets, o franqueado recebe um percentual sobre o valor da venda, que ele controla online, a partir de um software administrativo. Segundo Aboulafia, a rede de franquias fatura entre R$ 150 mil a R$ 200 mil por mês, volume que representa em torno de 5% do faturamento da Ezconet. A área de informática abriga outras experiências inovadoras, como o modelo de franquia de distribuição de software de gestão empresarial inaugurado pela Microsiga, em 1989, voltado ao mercado corporativo. "Fomos pioneiros nessa área. Até então, só existiam franquias de cursos de informática. Hoje, temos um canal consolidado, treinado e qualificado; conhecedor do produto e da estratégia da empresa. A última franquia foi aberta em 1999", explica Laércio Cosentino, presidente da holding Totvs, que controla a Microsiga e a Logocenter (desenvolvedor nacional do mesmo segmento incorporado pela primeira, no ano passado). A Totvs administra uma rede com 35 franquias de distribuição - 25 da marca Microsiga e dez da Logocenter. A Datasul, outro grande fornecedor nacional de sistemas de gestão empresarial, também criou sua própria rede de franquia. Hoje, reúne 35 franquias de distribuição no país. A mais recente foi aberta no início do ano. A Datasul Global atua a partir de dois escritórios, em Sorocaba e Campinas (SP). Na maioria das franquias da área de informática, os sócios são oriundos do mercado de tecnologia ou estavam à frente de empresas que eram parceiras comerciais e se tornaram franquias. "Muitas dessas redes cresceram na base da conversão de empresas estabelecidas ou de representantes. Foi o modelo que encontraram para crescer", observa Friedheim. A rede Brasil Suprimentos, fabricante de cartuchos de tinta para impressoras, criou modelo de comercialização voltado para abastecer o mercado corporativo a partir de um canal de franqueados para ganhar cobertura. Começou com a venda de suprimentos chamados de compatíveis (geralmente mais baratos do que os originais) para equipamentos de impressão e cópias. Hoje, o portfólio da empresa inclui linhas originais de cartuchos de tinta, toner, cilindros e reveladores. A empresa prepara-se para anunciar em junho uma nova rede de franquia - a Brasil Suprimentos Home Office. Dessa vez, voltada para o consumidor final ou de micro e pequenas empresas. Segundo Luiz Augusto Geraigire, sócio-diretor da Brasil Suprimentos, serão boxes instalados em shopping centers para recarga expressa de cartuchos de tinta. O piloto está em teste no Shopping Metrô Santa Cruz, em São Paulo. Entre os 15 franqueados da marca está David Christian Alves Tanure, que saiu da Xerox do Brasil para montar seu próprio negócio, em 2001. "Comecei com um franquia da Brasil Suprimentos em Santos. Troquei a de Santos por um escritório em Vinhedo, que atende a toda a região. Neste mês, acabo de assumir também o escritório da capital paulista", conta o franqueado, que calcula ter investido em torno de R$ 40 mil, entre 2001 e 2006. O faturamento, em 2005, ficou em R$ 1,4 milhão.