Título: Vestuário agora cresce de forma lenta e planejada
Autor: Yan Boechat
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2006, Valor Especial / FRANQUIAS, p. F4

Uma das pioneiras no desenvolvimento do franchising no Brasil, há mais de 20 anos, a indústria têxtil vive um momento de consolidação no mercado doméstico de franquias. Após quase uma década de desencanto com esse modelo de negócio que surgiu nos Estados Unidos nos anos 30 do século passado, a empresas de vestuário estão voltando a apostar nas franquias como uma boa maneira de fortalecer suas marcas e expandir os negócios sem utilizar capital próprio. Nos últimos anos o número de redes tem crescido, apesar da queda sensível no número de unidades franqueadas. Em 2001, havia 84 redes e 2,7 mil lojas operando sob esse formato. Em 2005, o número de franquias subiu para 119, mas a quantidade de unidades caiu para pouco mais de 2,3 mil. Em um momento em que as redes voltam-se para o exterior, a explicação para esse resultado resume-se numa palavra: profissionalização. Mais planejadas, com estruturas de operação bem definidas, as franquias de vestuário estão se expandindo com mais solidez no Brasil abandonando a estratégia de crescimento rápido. Um olhar frio sobre os números pode não dar essa idéia, mas experiências como a da Marisol, a líder em franquias de moda infantil, mostram que talvez este seja o melhor caminho a seguir. Há seis anos no setor, a Marisol focou sua estratégia no segmento infantil e criou marcas específicas para iniciar sua operação de franchising, como a Lilica Ripilica e a Tigor T. Tigre. Após definir o produto, a empresa de Blumenau (SC), criou um formato rígido de seleção de franqueados, dos pontos comerciais e toda a estratégia de marketing que seria utilizada na franquia. "Lentamente, conquistamos a liderança nesse segmento e agora iniciamos um processo de ampliação mais agressivo", diz Ronaldo Mattos, gerente de expansão da Marisol. A rede conta com 105 lojas e até o fim do ano deve ampliá-las para 130. Para 2007, afirma Mattos, o objetivo da Marisol é aumentar o número para 150 franquias da marca Lilica & Tigor. "Além de expandir nossos negócios sem utilizar capital próprio, a operação de franquias nos dá tranqüilidade de saber que, independentemente do que produzirmos, teremos aceitação do canal de vendas", diz. Hoje, 25% da produção da Marisol vai direto para as franquias. O próximo passo da empresa é o mercado internacional. Com 10 lojas espalhadas por países do Oriente Médio como Qatar, Líbano e Arábia Saudita, e América do Sul, a Marisol quer agora ir para a Europa. Abriu um escritório comercial na Itália e já no mês que vem inaugura uma loja no país. "Há muito espaço lá fora para as franquias brasileiras", afirma o executivo. Mesmo caminho tem seguido a Hering, uma das líderes do segmento de vestuário no setor de franchising, com mais de 300 lojas no Brasil. A companhia, que já conta com franquias em países como Arábia Saudita, Venezuela, Bolívia e Paraguai, quer agora expandir sua rede para Europa, Ásia e também África. "Estamos em conversas avançadas e acreditamos que iniciaremos uma expansão internacional considerável esse ano", afirma Marcelo D'Amaral, gerente de franquias da Hering. A expectativa da empresa é de que até o fim do ano cinco novas franquias sejam abertas em países europeus, provavelmente Portugal e Espanha, e em outras partes do mundo. A Hering conta com três modelos de franquias, a Hering Store, a Hering Beach e a PUC, destinada ao público infantil, que absorvem quase 50% da produção da empresa. "Estamos deixando de ser uma companhia industrial para nos transformarmos em uma empresa de varejo", diz D'Amaral. As experiências de sucesso da Hering e da Marisol podem ser atribuídas pelo fato de as duas empresas serem tradicionais no setor e contarem com uma estrutura preparada para expansões desse tipo. Sem dúvida escala e expertise ajudam. Mas o fenômeno das franquias tem se espalhado até entre aquelas empresas que nunca pensaram em franchising como uma opção de crescimento. Foi mais ou menos o que aconteceu com a Rosa Chá. Criada em 1988 pelo estilista Amir Slama, a empresa só foi abrir um loja própria quase 10 anos depois, na rua Oscar Freire, em São Paulo. Naquele momento, Slama não tinha a menor intenção em expandir os negócios por meio de franquias. "Mas comecei a receber pedidos para abrir lojas em outras cidades do país", conta ele. "A coisa foi crescendo a um ponto que tivemos que contratar consultores para desenhar um projeto específico para atender essa demanda". Hoje, a Rosa Chá conta com lojas em 12 cidades brasileiras, quase todas elas pertencentes a franqueados, e duas no exterior: uma em Miami e outra em Lisboa. Há 20 anos as franquias de vestuário estavam entre as líderes em número de unidades espalhadas pelo país. Agora, sua participação no mercado diminuiu. Elas são responsáveis por 6,4% do faturamento do setor - cerca de R$ 2,3 bilhões em 2005 - e 3,8% do número de unidades franqueadas. Mas isso não significa que elas estão se enfraquecendo. Na opinião de Celina Kochen, diretora do Comitê de Moda da Associação Brasileira de Franchising, crescer lentamente, mas de forma sólida, é melhor do que uma expansão desenfreada sem nenhuma estrutura, como ocorreu nas últimas duas décadas. "O setor está mais estruturado, os tempos de amadorismo ficaram para trás", diz ela.