Título: Itália e Brasil negociam parcerias tecnológicas
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2004, Brasil, p. A-2

A embaixada da Itália no Brasil surpreendeu-se com uma característica da "bresaola", saboroso e caro presunto à base de carne bovina, feito na tradicional região de Valtellina, nos Alpes italianos: mais de 60% da produção é feita com carne importada de produtores brasileiros. Transformada em presunto, a carne atravessa novamente o Atlântico e é exportada aos Estados Unidos. Empresas italianas poderiam investir no Brasil, transferir tecnologia e produzir no país a bresaola vendida aos americanos, acredita o adido científico da embaixada italiana, Paolo de Santis, um dos entusiastas do acordo, em negociação com o governo brasileiro, para transferência de tecnologia italiana em setores como engenharia de alimentos. A Itália negocia para colocar em prática um acordo firmado entre os dois países em 1997, e ratificado em 1999 pelo Congresso, de cooperação científica e tecnológica. O programa executivo em negociação com o governo brasileiro prevê a destinação de 200 mil euros anuais a projetos de cooperação em áreas como tecnologia alimentar, design (incluindo projetos no setor de cerâmica), saneamento e meio ambiente, tecnologia da informação e restauração de obras de arte. A negociação passa por uma fase de detalhes técnicos. O governo brasileiro quer limitar o foco dos programas de cooperação, para garantir eficácia na execução. Metade da verba de 200 mil euros para o próximo ano já tem destino certo, caso se firme o acordo: uma fábrica piloto de alimentos, em convênio com o governo do Paraná, para produção de salame do tipo Milano - escolha dos paranaenses. Parece uma contradição com a ênfase do governo italiano, nas negociações comerciais, em defesa das chamadas denominações de origem, como o termo "prosciutto (presunto) di Parma". Mas o que os italianos querem, explica o novo embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise, é a garantia do controle sobre produtos que levam denominações exclusivas da tradição italiana. "Se uma Ferrari for feita de acordo com as especificações do fabricante, na fábrica da Fiat em Betim, não deixa de ser uma Ferrari", compara. Recém-chegado ao Brasil, Valensise está empenhado no projeto de cooperação científica e tecnológica com o Brasil. Mas tem um pedido ao governo: o apoio do Brasil para que a cidade de Trieste seja eleita a sede da próxima exposição internacional - a exemplo da realizada em 1998, em Lisboa, com o tema "Os Oceanos". A decisão sai em duas semanas.