Título: Países vão tentar fechar um acordo inicial até maio
Autor: Raquel Landim e Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, Brasil, p. A4
Os países-membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) devem realizar reunião conjunta, no fim de abril ou início de maio, para tentar fechar um acordo inicial que permita concluir a Rodada de Doha no fim deste ano. Fonte próxima às negociações entende que o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, e as presidências dos grupos negociadores terão de trabalhar para tornar viável um acordo entre todos os países da organização. A avaliação da fonte é de que o processo entrou agora em uma fase delicada e que as decisões terão de ser tomadas em Genebra, onde está a sede da OMC. No fim de semana, no Rio, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que não há expectativa de que um país ou bloco se mova antes dos demais para melhorar ofertas: "Terá de ser um movimento simultâneo envolvendo países que hoje (sábado) não estão aqui." Na sexta-feira e no sábado ele manteve reuniões bilaterais e conjuntas para discutir a Rodada Doha com Lamy, com o comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, e com o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Portman. Foram encontros informais, que não serviram para fechar nenhum acordo, mas propiciaram discussão para delimitar o campo de jogo. "Encontros como este são úteis porque permitem uma conversa mais franca", disse Amorim. O foco das discussões recaiu sobre os três pilares da Rodada: o corte de tarifas industriais, tema em que o Brasil é pressionado a aceitar reduções maiores; o apoio interno dado pelos EUA aos agricultores e o acesso a mercado de produtos agrícolas, ponto em que caberá à UE fazer maiores concessões. Nos encontros, no Hotel Copacabana Palace, Amorim disse com clareza aos interlocutores que não poderia fazer nenhuma sinalização de redução de tarifas em produtos industriais porque o Brasil não tem mandato de outros países para negociar o tema. Na avaliação de fontes ouvidas pelo Valor, há espaços para movimentos (melhorias nas ofertas). Mas todos querem fazer um movimento tendo certeza que receberão contrapartida interessante. E é por não saber qual será essa contrapartida que as negociações estão travadas. E qualquer avanço passará agora pelas negociações em Genebra. Os ministros aproveitaram para testar os limites de cada lado. Houve argumentos sobre o que cada um pode fazer ou gostaria de ter. Também houve sinalizações sobre os pontos a partir dos quais não será possível ir além. Brasileiros e europeus têm dificuldades para chegar a um acordo sobre os produtos agrícolas sensíveis. A Europa até aceita conceder uma cota maior para incrementar o acesso desses produtos ao seu mercado. Mas o Brasil prefere um corte mais expressivo das tarifas. Já dos Estados Unidos o Brasil quer obter compromisso de disciplinar os subsídios concedidos na "caixa azul", que são um pouco menos distorcivos ao comércio. Os negociadores brasileiros tentam evitar que os EUA concentrem em poucos produtos todo o montante de subsídios permitido pela caixa azul. Os negociadores brasileiros avaliam que os Estados Unidos estão em uma posição delicada na negociação. Os americanos afirmam ter pressa para concluir a Rodada, por conta do fim da TPA (Trade Promotion Authority), que expira no próximo ano. Mas estão pedindo ganhos muito ambiciosos em agricultura, já que o país avalia que tem pouco a ganhar com a redução de tarifas industriais. Uma das conclusões de sábado foi que será preciso aprofundar as simulações sobre a questão do apóio doméstico. Ocorre que as informações de que o Brasil dispõe nesta área são estimativas. Não há números oficiais. O Brasil quer que a UE e os EUA informem qual é o valor desembolsado no apóio aos agricultores, segundo cifras atuais (as últimas disponíveis são de 2001). A fonte argumenta que sem conhecer o tamanho do subsídio não adianta negociar corte nas tarifas para garantir maior acesso aos produtos agrícolas. (FG e RL).