Título: Depoimento à PF de assessores da Justiça prejudica situação de Palocci
Autor: Claudia Safatle e Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, Política, p. A8

O secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, e o chefe de gabinete do ministro da Justiça, Cláudio Alencar, prestaram depoimento ontem na Polícia Federal sobre a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Goldberg já havia enviado ofício à PF, na quinta feira da semana passada. Tão logo retornou de viagem a Washington, ofereceu-se a comparecer voluntariamente ao órgão para prestar informações relativas à questão do sigilo bancário e a sua ida à residência do então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, na quinta-feira que precedeu à publicação dos dados da conta bancária do caseiro no blog da revista "Época". Naquele dia, Palocci solicitou a Goldberg - o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos estava em Rondônia - para que fosse à sua casa depois das 23 horas. O secretário da SDE, braço direito de Bastos, foi acompanhado do chefe de gabinete do ministério, que ficou no carro. Ao entrar, viu o então presidente da Caixa Econômica Federal (CEF) , Jorge Mattoso, que já estava de saída e não participou do encontro entre Palocci e Goldberg. O ministro da Fazenda teria dito ao secretário que corriam boatos de que a imprensa teria descoberto que o caseiro tinha em sua conta bancária depósitos e movimentações que não condiziam com seu salário de R$ 700. Fato que provaria que Francenildo teria recebido da oposição dinheiro para dar a entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" - apontando que Palocci freqüentava a casa de lobby e festas com garotas de programa que o ministro tanto negara. Isso desmoralizaria as afirmações do caseiro e encerraria o assunto. Palocci, mesmo sabendo que PF não é exatamente a área de Goldberg, o consultou sobre a possibilidade da polícia investigar o caseiro. O secretário da SDE teria dito que iria ver, mas não teria tido acesso aos extratos bancários que Mattoso havia entregue a Palocci minutos antes. Na sexta feira, tão logo a notícia da quebra do sigilo bancário do caseiro foi divulgada pela "Época" e as primeiras especulações apontavam a culpa da quebra ilegal do sigilo à PF, Goldberg e Alencar teriam relatado ao ministro da Justiça tudo o que viram. A presença de Mattoso na casa de Palocci apontava para a CEF a responsabilidade sobre a divulgação dos dados bancários de Francenildo. Essa informação destruiu todos os argumentos de Palocci, provocou discussões graves entre este e o ministro da Justiça e encerrou as possibilidades de Palocci continuar no governo. A divulgação dessa nova história, envolvendo Goldberg e Alencar como testemunhas oculares do que ocorreu na casa de Palocci, agora, enterra de vez a possibilidade do ministro da Fazenda negar que foi o mandante da quebra do sigilo bancário do caseiro. Palocci deve depor esta semana na PF. Foi de uma sala no Palácio do Planalto, onde ficou refugiado por mais de dez dias, sob intenso bombardeio, que Palocci acertou com Mattoso a quebra do sigilo bancário de Francenildo. Esse novo conjunto de informações leva a oposição a suspeitar que a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro resultou de uma "decisão de governo", aproximando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do episódio. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse ontem que até o ministro da Justiça poderá ser convocado pela Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos (CPI), se houver necessidade de maiores esclarecimentos após os depoimentos à Polícia Federal. "Como um assessor direto dele estava lá na noite em que Palocci recebeu o documento, e como o ex-ministro despachava no Palácio do Planalto, ao lado de Lula, temos o direito de concluir que tinha uma decisão de governo (para violar o sigilo do caseiro), com anuência do presidente", afirmou Dias. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), concorda. " Piorou muito a situação do presidente Lula. O fato de uma das reuniões ter sido no Planalto dá ensejo a muita exploração, principalmente em ano eleitoral", disse ontem o parlamentar. Para o relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), as novas revelações do caso reforçam a necessidade de a CPI aprovaramanhã a convocação do presidente da CEF, Jorge Mattoso. "Quem pode abrir essa caixa preta é ele", disse Alves. Já o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), acha importante que a CPI convoque também Goldberg. Temendo que o Supremo Tribunal Federal (STF) crie novos obstáculos para que a CPI aprofunde a investigação do caso, Agripino defende a ampliação do fato determinado que a criou. Requerimento para isso já está nas mãos do presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), e basta ser lido para que a CPI seja ampliada e tenha amparo legal para apurar "fatos conexos" aos bingos.