Título: Aliança de Lula fica menor do que a de 2002
Autor: Raymundo Costa e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, Política, p. A9

Definidas as regras eleitorais e os principais protagonistas do jogo sucessório, o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no comando, correm o risco de disputar as eleições de outubro com uma aliança menor que aquela que reuniram para governar, depois das eleições de 2002. A rigor, só o PCdoB, um aliado histórico, deve integrar a aliança presidencial. A verticalização - a regra que impede partidos adversários na eleição presidencial de se coligar nos Estados - inibiu todos os demais candidatos em potencial ao palanque lulista, do PMDB ao PTB, passando pelo PSB. Além disso, Lula e o PT demoram a dar a largada na disputa e sofrem um cerco implacável da oposição, nos Estados, o que pode deixar isolados o partido e o presidente da República. Com a desincompatibilização de ministros, governadores e prefeitos, no fim da semana passada, só a situação de Anthony Garotinho permanece indefinida. Em tese, ele ainda pode arrancar a candidatura do PMDB, em convenção a ser realizada até junho. É pouco provável. Com pelo menos 14 candidatos considerados competitivos nos Estados, a tendência da sigla, por causa da verticalização, é ficar sem candidato a presidente. O que pode levar o PMDB a estar associado ao PSDB e ao PFL nos principais colégios eleitorais do país, como no chamado Triângulo das Bermudas - São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que juntos reúnem 42% do eleitorado. O PFL indicará o candidato a vice na chapa presidencial do tucano Geraldo Alckmin. Mas já se costura, nos bastidores, a candidatura a vice do deputado Michel Temer, presidente do PMDB, na chapa de José Serra ao governo de São Paulo. Com Garotinho fora da corrida nacional, os tucanos tentam o apoio do partido e do prefeito Cesar Maia (PFL) ao eventual candidato pemedebista ao governo do Rio, senador Sérgio Cabral. Em Minas, o governador Aécio Neves se candidatará à reeleição com um amplo arco de alianças, que incluem o PMDB. Talvez até na vice, com o deputado Saraiva Felipe, até sexta-feira ministro da Saúde do governo Lula. O PT já se deu conta do cerco. "A oposição tenta criar um ambiente de enfraquecimento do PT, de forma a deixar o partido com poucas alternativas nos Estados", diz o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP). "Sabemos que temos limitações, mas vamos tentar fazer o maior número de alianças possíveis, com o corte mais próximo da trajetória do PT". Ou seja, os aliados tradicionais do PT como PCdoB e o PSB. Para um assíduo interlocutor do presidente Lula, no entanto, "o PT é o único responsável" pelo cerco que sofre das oposições, pela insistência em ter candidato próprio, a ferro e fogo, nos Estados. Berzoini diz que essa é a tradição do PT. E que tem dado resultados. Em 2002 - aponta -, embora tenha eleito apenas três governadores, o partido foi competitivo em oito Estados, inclusive com José Genoíno em São Paulo - onde foi ao segundo turno com Alckmin - e Ceará, onde perdeu por diferença mínima para o PSDB. Ele acredita que as coligações regionais, formais e informais, podem ser uma e a nacional, outra. Como em 2002. Exemplo: no Paraná, o governador pemedebista Roberto Requião disputou contra o PT, mas apoiou Lula para a Presidência, contra o candidato da aliança PSDB-PMDB, José Serra. Agora anuncia uma aliança tendo o PSDB como vice. Mas deve continuar com Lula. No Rio Grande do Sul, o PT deve concorrer com Olívio Dutra aliado ao PCdoB e - possivelmente - ao PSB. Mas no Ceará há um movimento do senador Tasso Jereissati no sentido de atrair o ex-ministro Ciro Gomes e seu irmão Cid, que é candidato ao governo estadual, para a órbita do PSDB. O PT até admite que isso possa ocorrer, mas avalia que o apoio de Ciro a Lula é definitivo. O projeto petista era apoiar Cid (PSB) para o governo, o deputado Ignácio Arruda para o Senado e indicar o candidato a vice na chapa. Se o movimento de Tasso prosperar, o PT pode apresentar candidatura própria, como defende a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. Para enfrentar o cerco dos adversários no Rio, o PT fala em reunir uma frente de esquerda em torno de Vladimir Palmeira que reuniria o PSB, o PCdoB e, eventualmente, o PDT. Para Minas foi pensado um lance ousado: a candidatura do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), com o apoio do PT ou com o partido lançando também candidato próprio para tentar forçar um segundo turno contra Aécio. Não vingou e o PT deve ir mesmo de Nilmário Miranda, com o apoio do PCdoB. Que será parceiro também em São Paulo: os petistas já desistiram de contar com o PTB, que integra a base de apoio do ex-governador Alckmin. O secretário-geral do PSB, deputado Renato Casagrande (ES), admite que seu partido pode compor com o PT na maioria dos Estados, mas reconhece que a manutenção da verticalização e a cláusula de barreira devem mesmo afastar o PSB de Lula no plano nacional. "Não tem jeito. Nos Estados, a verticalização não vai alterar nossas alianças. Mas não teremos como estar juntos em uma aliança nacional" disse. "Mas, em cada um dos nossos palanques, vamos pedir votos para Lula". A afinidade estadual entre PT e PSB, neste primeiro momento, está praticamente certa no Rio Grande do Norte, em Sergipe, no Piauí, no Maranhão, no Pará e em Goiás. Casagrande confirma as tratativas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e em Minas Gerais. As eleições mineiras ainda são uma incógnita para o PSB. "Nós ainda podemos apoiar o tucano Aécio Neves, talvez o único Estado onde estejamos juntos com um candidato de oposição ao governo federal. Mas existe um sentimento da bancada mineira da legenda para que nos unamos ao PT. De qualquer forma, não temos ainda esta definição", reconhece Casagrande. A tradicional dificuldade do PT em ceder a cabeça de chapa reflete-se, inclusive, com no fiel aliado PSB. Em pelo menos dois Estados em que os pessebistas terão candidato próprio, não está garantido que terão apoio de petistas. Em um deles, inclusive - Pernambuco -, essa aliança está praticamente descartada. Lá, o PSB lançará o presidente nacional da legenda, Eduardo Campos para concorrer, provavelmente, contra o ex-ministro da Saúde, Humberto Costa. Já o PL, por enquanto, sente-se à vontade para apoiar Lula. Os liberais argumentam que têm tranqüilidade para fazer isso, uma vez que não aderiram ao governo. "Estamos com o Lula desde a campanha, com José Alencar (hoje no PRB)", diz fonte credenciada do PL. "De qualquer forma, a convenção do PL é só em julho. Só lá poderemos dar um quadro mais preciso. A rigor, ninguém sabe ao certo quem é candidato aos governos estaduais".