Título: Decisão da Petrobras é duro revés à Braskem
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, Empresas &, p. B6

A decisão da Petrobras de não exercer e encerrar a opção que possuía para aumentar sua participação de 10% para até 30% no controle da Braskem em troca de ativos petroquímicos é um duro golpe nas pretensões da companhia controlada pelo grupo Odebrecht. A Ipiranga - o outro grupo que tinha interesse na decisão da Petrobras e que divide com a Braskem o controle da Copesul, a lucrativa central de matérias-primas do pólo petroquímico de Triunfo (RS), - manteve intacta sua posição no setor e, por tabela, evitou o desembolso de uma soma milionária. Com o anúncio do encerramento da opção por parte da Petrobras, divulgado na noite de sexta-feira, a Braskem viu seus planos serem frustrados. A maior petroquímica do país, com receita de R$ 14,3 bilhões, pretendia elevar sua escala de produção, aumentar as sinergias e reduzir os custos ao tentar a integração das principais empresas da segunda geração petroquímica do pólo do Sul à central de matérias-primas, um modelo que deu certo à companhia na Bahia. Apesar do insucesso, a empresa continua a favor deste desenho. "A Braskem mantém sua forte crença no modelo consolidado e integrado como a melhor resposta às necessidades de competitividade da petroquímica brasileira frente aos desafios crescentes de um mercado cada vez mais globalizado", disse o presidente da companhia, José Carlos Grubisich, em comunicado, sobre a decisão da Petrobras. A estatal tinha desde 2001 uma opção para aumentar sua fatia na Braskem depois que a empresa do grupo Odebrecht adquiriu a Copene, a principal companhia do pólo da Bahia. Mas a estatal vinha mudando os termos e os prazos desta opção desde o último ano. Na última versão, encerrada na sexta-feira, a Petrobras poderia elevar em até 30% sua fatia no controle da Braskem integralizando os 15,6% das ações que detém na Copesul, os 70,4% do controle da Petroquímica Triunfo e os 40% da Petroquímica de Paulínia, uma joint-venture com a própria Braskem. Em nota, a Petrobras e Braskem alegaram que "não foi possível encontrar um consenso quanto aos termos e condições que permitissem a criação de valor para todos os acionistas da Braskem." A estatal continuará com 10% das ações ordinárias e 8,45% do capital votante da Braskem. Os porta-vozes de ambas as companhias não fizeram comentários adicionais. A Ipiranga também não se manifestou. A Braskem fará na quarta-feira uma conferência para analistas. "A decisão foi ruim para a Braskem porque perdeu a chance de compor com a Petrobras, sua principal fornecedora de matéria-prima", disse um analista, que preferiu não se identificar. Outro analista foi além. "A Petrobras também perdeu a oportunidade de criação de valor. Se fosse acionista da Petroquisa [o braço da Petrobras na petroquímica], preferia ter 30% da Braskem do que 70% de participação na Petroquímica Triunfo." Embora a Braskem tenha anunciado em nota que confirma o compromisso com o "desenvolvimento do Rio Grande do Sul e do pólo de Triunfo", analistas dizem que o esforço atual da companhia é viabilizar o pólo da Bolívia, um projeto antigo e bilionário, em parceria com a própria Petrobras, mas que enfrenta hoje as ameaças de interferência e suspensão por parte do governo Evo Morales. O projeto da Bolívia também rivaliza, na sua entrada em operação, com a refinaria petroquímica, que teve sua localização anunciada para Itaboraí e São Gonçalo (RJ). Resta também à Braskem, sem grande amarras com a Petrobras, tocar projetos adiante com outros parceiros, como a construção de uma unidade na Venezuela com a PDVSA, que será decidida este ano. Afastada do risco de que seus ativos ficassem isolados, a Ipiranga acabou numa situação confortável. O grupo já tinha se preparado para levantar os recursos para exercer seu direito de preferência nas ações em posse da Petrobras na Copesul e na compra da fatia dos minoritários. Caso a Petrobras aumentasse sua fatia na empresa do grupo Odebrecht, a Ipiranga corria o risco de elevar sua dívida em US$ 450 milhões se quisesse manter a mesma força acionária que sua sócia na Copesul. Na semana passada, as ações da Ipiranga valorizaram-se 4,2% ao passo que os papéis da Braskem perderam 4,8% do seu valor. A decisão da Petrobras de não levar adiante o projeto de elevação de sua participação na Braskem foi interpretada como uma forma de evitar o desgaste político em meio à disputa eleitoral de 2006. O governo do Rio Grande do Sul e a bancada do Estado pressionaram a Petrobras e pessoas influentes no Planalto para que a estatal não fizesse a operação. A aposta é que consiga-se encontrar um caminho de crescimento sem a consolidação das empresas no pólo do Sul. "A decisão não foi a ideal, mas cumpriu em parte o interesse defendido no Estado", disse o secretário do Desenvolvimento do Rio Grande do Sul, Luís Roberto Ponte. "Ela mantém o poder tanto da Braskem como da Ipiranga na Copesul", disse Ponte, que espera agora uma iniciativa para que a Petrobras eleve os investimentos no Estado. "Não creio que a Braskem tenha ficado com ciúmes com essa decisão e continue investindo no pólo gaúcho."