Título: Fundos derrubam açúcar e café em NY
Autor: Mônica Scaramuzzo e Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, Agronegócios, p. B13

Após dez meses consecutivos em alta, as cotações médias do açúcar no mercado internacional cederam em março, pressionadas pelas liquidações dos fundos. Este mesmo movimento derrubou os preços do café, do cacau e do algodão, conforme levantamento do Valor Data, que mostra a variação média mensal dos contratos de segunda posição para entrega nas bolsas de Nova York (açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão) e de Chicago (soja, milho e trigo). "Embora os fundamentos continuem indicando déficit global, com estoques reduzidos nos principais países produtores, os preços do açúcar caíram com o movimento de liquidação dos fundos", disse Rodrigo Costa, operador da Fimat Futures. Em março, a cotação média do açúcar ficou em 16,81 centavos de dólar por libra-peso, com queda de 6,9% sobre fevereiro. Em doze meses, a alta é de 85,51%. Costa observou que os preços da commodity deverão se manter firmes, mesmo com a entrada da safra de cana no Centro-Sul do Brasil. "As chuvas atrapalharam o ritmo da colheita de cana neste início de safra", disse o operador. O início da colheita de café robusta no Brasil também já exerce pressão sobre os preços da commodity no mercado internacional. "Os torrefadores estão comprando aos poucos, e os países produtores começaram a vender", disse Costa, da Fimat. A cotação média do café ficou em US$ 1,0862 a libra-peso em março, com recuo de 5,1% sobre o mês anterior. Em doze meses, a commodity acumula queda de 16,5%. Em abril, o governo deverá divulgar nova estimativa de safra de café. "O mercado trabalha com redução da produção brasileira, o que poderá sustentar os preços." No caso do algodão, os fundos também foram atuantes, mas as quedas foram limitadas pelos bons volumes de exportações americanas, segundo Fernando Martins, da Fimat Futures. Em março, a cotação média do algodão ficou em 54,76 centavos de dólar por libra-peso, com queda de 4,13% sobre fevereiro. Em doze meses, o aumento é de 3,43%. As cotações médias do cacau tiveram ligeiro recuo no mês passado. "O mercado andou de lado, procurando um rumo", afirmou Thomas Hartmann, da TH Consultoria. Em março, a cotação média do cacau ficou em US$ 1.490,87 a tonelada, recuo de 0,28% sobre o mês anterior. Em doze meses, a commodity tem queda de 13,76%. Contrariando o movimento baixista de Nova York, as cotações médias do suco de laranja fecharam com forte alta em março, sustentadas pela expectativa de menor produção de laranja na Flórida. "A safra americana de laranja poderá recuar mais, ainda como reflexo dos furacões do ano passado", disse Michael McDougall, diretor da Fimat. Em março, a cotação média do suco ficou em US$ 1,3743 a libra-peso, alta de 6,17% sobre o mês anterior. Em doze meses, a commodity acumula alta de 40,27%. Em Chicago, os preços médios mensais de soja, milho e trigo foram fortemente influenciados pelo relatório de intenção de plantio nos EUA, divulgado sexta-feira pelo Departamento de Agricultura americano (USDA). O órgão previu alta de 7% na área de soja, para 31,11 milhões de hectares. "Se os EUA mantiverem a produtividade da última colheita, a safra americana poderá chegar a 89,5 milhões de toneladas, o que elevará ainda mais os estoques mundiais", disse Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Sayeg observou que a redução da demanda chinesa e a safra recorde na América do Sul também ajudaram a pressionar os preços. "Os estoques também tendem a crescer. Não vejo melhora nos preços daqui para frente", disse. Em março, os preços médios da soja fecharam em US$ 5,9142 o bushel, com queda de 0,86% sobre o mês passado. Em doze meses, as cotações acumulam queda de 7,63%. As cotações médias do trigo fecharam a US$ 3,6804 o bushel, ligeiro recuo de 0,57% em março em relação a fevereiro. Mas os preços tendem a se valorizar nas próximas semanas, devido ao aumento do consumo mundial e às previsões de redução da colheita global em 10 milhões de toneladas nesta safra, para 616,4 milhões. "Por enquanto, o mercado vai reagir de acordo com as notícias de clima dos EUA", disse Élcio Bento, da Safras& Mercado. Em seu relatório, o USDA previu aumento de 404,7 de mil hectares nos EUA para 16,7 milhões hectares em 2006/07. No Brasil, os preços seguirão pressionados pela fraca demanda interna e entrada do cereal argentino. "Os moinhos argentinos oferecem até 360 dias para pagar, se a indústria fizer ACC [Adiantamento de Contrato de Câmbio]. Os brasileiros exigem o pagamento em 130 dias." Para o milho, o USDA previu redução de 5% na área, para 23,12 milhões de hectares nos EUA. O mercado esperava uma redução de até 2%. Em março, as cotações média ficaram em US$ 2,3402 o bushel, com ligeiro aumento de 0,21% sobre fevereiro. Em doze meses, a valorização é de 5,63%. "Daqui para frente, a evolução dos preços vai depender muito do clima nos EUA", avaliou Leonardo Sologuren, da Céleres. Ele observou que os preços em março foram influenciados pelo aumento da demanda de milho por etanol. Segundo Paulo Molinari, da Safras&Mercado, a redução da safra na Argentina (de 19 milhões de toneladas em 2004/05 para 14 milhões) e a queda das exportações da China ajudaram a dar suporte. Analistas observaram que a demanda por grão para ração não sofreu forte variação, apesar do avanço da gripe aviária.