Título: Rumo às lavouras, estradas asfaltadas apenas "no papel", buracos e jegues
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, Agronegócios, p. B14

No trajeto rodoviário de cerca de 1.200 quilômetros entre Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano, e Balsas, no sul do Maranhão, um dos percorridos pela equipe do Rally da Safra, os momentos de tranqüilidade não são muitos. Um deles é quando se chega à divisa do Estado da Bahia com o Piauí, depois de viajar por um trecho de estradas esburacadas e de terra na parte baiana da BR 135. Ali, a estrada muda. Apesar da pista simples, os buracos são até raros e há pouco movimento de veículos. Antes, porém, motorista e passageiros vivem momentos de alguma tensão. De Luís Eduardo Magalhães a Cristino Castro, no sul do Piauí, perto da região de produção de grãos no Estado, são 610 quilômetros de pistas simples, sendo 80 deles de terra. Dizem, de forma zombeteira, na região, que esses trechos já foram asfaltados duas vezes, "mas só no papel". O trecho sem asfalto da estrada parece ter muito mais que 80 quilômetros, tamanha a dificuldade para percorrê-lo. Mas na parte pavimentada, o desafio não é menor: o motorista é obrigado, em vários momentos, a andar na pista contrária para desviar de buracos, que poderiam "engolir" parte do veículo. Na BR 230, que leva até Balsas, no sul no Maranhão, o que assusta é a falta de acostamento. Nesse caso, é preciso "driblar" os caminhões que param na estrada e tomam quase toda a pista. De novo, é preciso avançar na pista contrária. Nas cidades dessa região do cerrado nordestino, os acessos às áreas de produção também são precários. Em estradas, sempre de terra, os motoristas se deparam com jegues e seus donos, vacas, cabras e até porcos. E quando chove, difícil é não atolar. O escoamento da produção de grãos a partir do sul do Piauí e do sul do Maranhão, porém, é facilitado devido ao porto de Itaqui, em São Luís, capital maranhense, observa o analista André Debastiani, da Agroconsult. A soja de Bom Jesus, no Piauí, é transportada pela Transcerrado, que leva a Uuruçuí (PI). Dali são cerca de 800 quilômetros até o porto, em São Luís, de onde o produto é exportado. A soja de Balsas é escoada pela BR 230, até Porto Franco, onde há um terminal da Vale do Rio Doce. A partir daí, o modal é a ferrovia até o porto de Itaqui. "Nessa região, o escoamento é facilitado por causa do porto de Itaqui, em São Luís", afirma Debastiani. Ele observa que outras regiões de produção de soja do país, como o Mato Grosso, exportam o grão pelo porto de Paranaguá (PR) porque não têm muitas outras alternativas para escoamento. E a distância a se percorrer é muito maior. De Rondonópolis (MT) até o porto de Paranaguá são cerca de 1.620 quilômetros por rodovias. (AAR)