Título: Grau de investimento trará mais recursos, diz Bradesco
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, Finanças, p. C1

O Brasil deve ter até o final de 2007 a nota grau de investimento ("investment grade") por pelo menos uma agência de classificação de risco, prevê Octavio de Barros, diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco. Com o rating, a base de investidores estrangeiros que aplicam diretamente recursos no Brasil pode aumentar em 17 vezes, estima o economista. Barros participou na sexta-feira de um debate organizado pelo Bradesco que reuniu 450 diretores e presidentes de empresas, todos clientes "corporate" do banco. País menos volátil, juro real menor, ações em alta, aumento do crescimento econômico e do investimento direto para valores acima de US$ 20 bilhões por ano estão entre os principais benefícios do grau de investimento, avalia Barros. No caso dos investidores estrangeiros, muitos fundos de pensão e gestoras de recursos americanos e europeus não estão autorizados a aplicar diretamente em países que não tenham esse rating. Paulo Leme, diretor executivo do Goldman Sachs, que também participou do seminário, prevê que o risco-brasil, hoje na casa dos 230 pontos, caia para algo entre 100 pontos e 130 pontos, níveis semelhantes ao do México e da Rússia, países que já são grau de investimento. Ele, porém, está mais cauteloso e acha que a obtenção do rating pelo Brasil pode levar mais tempo. "As taxas de crescimento precisam aumentar", disse. O Brasil, segundo ele, não pode crescer 2,5% ao ano enquanto países da África crescem em média 5%. Para crescer mais, Leme sugere a adoção "de forma mais inteligente" dos mesmos instrumentos atuais de política econômica. Uma das sugestões é fazer no plano fiscal o mesmo esforço que foi feito para melhorar os indicadores externos. "A qualidade do ajuste fiscal é péssima", afirma. Leme não vê, porém, viabilidade para fazer isso ainda no governo Lula. "O investment grade é legal, mas não é tudo. O que importa é a qualidade da política econômica", disse, ressaltando que a quantidade de investimentos externos no Brasil e no México é a mesma. O vice-presidente do Lehman Brothers, John Welch, também prevê a obtenção da nota já em 2007. A principal desvantagem do Brasil, em relação aos países que são grau de investimento, segundo ele, é uma menor abertura comercial. Outro ponto é a necessidade de reformas, como a tributária. Uma pesquisa feita pelo Bradesco confirma que esta é a primeira reforma que deve ser feita, apontada por cerca de 45% pesquisados. O objetivo do seminário do Bradesco era discutir o que mudaria para as empresas com o grau de investimento. Izac Zagury , diretor financeiro da Aracruz, que tem a nota pela Moody's e pela Standard and Poor's (S&P), contou a experiência da empresa. O custo de capital caiu um ponto percentual e as ações se valorizaram 10%. A Aracruz também passou a ser procurada por empresas estrangeiras interessas em atuar no Brasil. "A percepção da empresa para o investidor estrangeiro mudou totalmente", disse. Peter West, chefe de pesquisa da Poalin Asset Management, com sede em Londres, diz que a percepção dos empresários britânicos é que o Brasil ainda não é uma economia tão estável. Com isso, eles investem menos aqui. "O grau de investimento vai acelerar esta mudança de percepção", afirmou.