Título: Mercado se divide sobre o destino das aplicações em abril
Autor: Daniele Camba e Angelo Pavini
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, EU &, p. D2

Depois dos sustos em março, com os ativos mudando da água para o vinho na segunda quinzena, motivados principalmente pelas denúncias que culminaram na troca do ministro da Fazenda, os analistas estão divididos quanto ao destino do mercado. Para uma parte deles, os cenários tanto externo quanto local não estão definidos e a palavra de ordem é cautela, com os fundos DI como a melhor recomendação para este momento. Já para outra parcela, as incertezas sobre a forma como o novo ministro Guido Mantega irá conduzir a política econômica estão se dissipando e o "kit Brasil" (bolsa e títulos da dívida externa em alta e dólar e juros em queda) deve voltar ao caminho da primeira quinzena de março . Mas em um ponto todos concordam: a volatilidade dos ativos veio para ficar, pelo menos no médio prazo. Com as incertezas quanto ao crescimento mundial, aliadas ao aumento dos juros nos EUA e na Europa, o euro foi o melhor investimento em março, com alta de 3,83%, seguido de perto pelos fundos cambiais com valorização de 3,60% (até dia 28), em parte pelo euro e pela alta do dólar, de 1,26%. O ouro também aparece no grupo dos vencedores com ganhos de 3,07%. Para o consultor Fábio Colombo, tanto ouro quanto moedas servem apenas como diversificação, para se proteger de uma possível deterioração do cenário externo, o que, porém, não seria o mais provável neste momento. Apesar da queda de 1,71% do Índice Bovespa em março, o que em tese poderia representar espaço para novas valorizações, Colombo é do grupo dos que acredita que as ações terão mais volatilidade do que ganhos nos próximos meses. Enquanto isso, os juros ainda serão altos o suficiente para justificar uma atitude conservadora do investidor, concentrando as aplicações ainda nos fundos DI. Já os títulos prefixados e os indexados ao índices de inflação podem ser boas aplicações, mas no médio prazo. A volatilidade dos mercados vai aumentar nos próximos meses, alerta Charles Ferraz, superintendente executivo da BankBoston Asset Management (BAM). Nesse cenário, ele acredita também que os fundos DI podem ser a melhor opção, ao unir o baixo risco ao ganho ainda elevado dos juros em um ambiente de inflação baixa. Ferraz vê três pontos a serem monitorados pelo investidor nos próximos meses. O primeiro, no curto prazo, os sinais dados pelo novo ministro Guido Mantega e sua equipe com relação a mudanças na economia. O segundo, de médio prazo, a evolução do cenário político, que poderá representar um fator de instabilidade depois da saída do ministro Antonio Palocci. "Antes havia a expectativa de que haveria duas candidaturas com propostas econômicas semelhantes, e agora há dúvidas sobre como será um segundo governo Lula com Mantega ou outro ministro." Esses fatores terão de ser monitorados em cada declaração do novo ministro e poderão ampliar a instabilidade dos mercados. O terceiro ponto a ser acompanhado é o cenário externo, que é o que mais preocupa Ferraz. A expectativa de que o banco central americano poderá subir os juros além dos 5% ao ano esperados até a semana passada provocaria uma redução dos investimentos em países emergentes, afetando a bolsa e o dólar no Brasil. O chefe de análise do Banco Pactual, Ricardo Kobayashi, pertence ao grupo dos que acredita que a bolsa deve voltar para uma rota positiva por uma série de motivos. Entre eles: a possibilidade do PMDB não ter candidato à eleição presidencial, o que a torna muito mais previsível entre PT e PSDB, a continuidade de entrada de recursos estrangeiros e a perspectiva de uma boa safra de balanços das empresas no primeiro trimestre, principalmente daquelas ligadas ao mercado interno. Os planos do novo ministro da Fazenda ainda são o grande ponto de interrogação, no curto prazo. Tanto Kobayashi quanto o estrategista do ABN Amro Asset Management, Aquiles Mosca, acreditam que o novo ministro não mudará o modelo de política econômica definido por Antonio Palocci e que vem dando certo. "O mercado perceberá isso e o 'kit Brasil' deve retomar a mesma tendência de antes do nervosismo", diz Mosca.