Título: Quantidade de frotas sem seguro é desafio à imaginação de corretoras
Autor: Mauro Cezar Pereira
Fonte: Valor Econômico, 03/04/2006, GUIA VEÍCULOS, p. 2

Muitos empresários preferem assumir o risco da perda de um ou outro veículo, seja ele um caminhão, carro ou ônibus, a bancar o custo de colocar no seguro a frota da companhia. Os frotistas utilizam, em muitos casos, oficinas próprias para reparos. Também é comum fazerem apenas o seguro contra terceiros, ou Responsabilidade Civil Facultativa (RCFV), para eventuais acidentes. Trata-se, portanto, de um mercado pouco explorado pelas seguradoras. Julio Bittencourt/Valor Para Marco Antonio Oliveira Neves, diretor da TigerLog Logística, as empresas pouco têm feito para mudar esse cenário. "Sabem que existem muita fraude e o preço realmente ficaria inviável", resume. Ele lembra que o risco está diretamente relacionado aos valores transportados. Com isso, setores como de cigarros, eletroeletrônicos e alimentos fazem seguro da carga ou até do caminhão. "Em função do alto custo cobrado pelas seguradoras, preferem investir numa gestão de riscos própria, com o uso de rastreadores e monitoramento 24 horas". A AGF Seguros garante que tem focado o segmento de frotas. O diretor de massificados Marcelo Goldman lembra que no caso das empresas que assumem o risco dos automóveis, o RCFV é uma boa opção porque os valores de indenização, em caso de atropelamento, por exemplo, podem ser muito elevados. "Também é comum algumas empresas só contratarem serviços de assistência aos veículos, como o guincho", acrescenta. Contudo, Neves, da Tigerlog, observa que o maior contingente das frotas é de autônomos, que em geral não fazem seguro, deixando o mercado restrito aos grandes transportadores. "Muitas dessas empresas vivem na informalidade. Imagine se gastariam com seguro..." Uma saída seria haver apólices com preços mais acessíveis, mas essa é uma situação considerada improvável devido não só aos roubos e à precariedade das estradas. "Apenas com tecnologia de rastreamento do veículo e da carga conseguiremos minimizar esse problema", afirma Neves. Com mais de 16,7 mil veículos a ela associados, dos quais 8 mil caminhões, a Confederação Nacional das Revendas AmBev e das Empresas de Logística da Distribuição (Confenar) tem em sua maioria associados com frotas médias e pequenas. "Nossa orientação é sempre estar coberto com apólices integrais para resguardar tudo aquilo que oferecer risco", assegura o vice-presidente, Hamilton Picolotti. Para ele, o fato de terem frota diversificada, alto custo de apólices e, acima de tudo, histórico de baixa ocorrência, são as razões pelas quais grandes frotas preferem correr o risco e arcar com sinistros. Emerson Bernardes da Silva, superintendente de produtos Unibanco AIG, assegura que o mercado procura oferecer modalidades diferenciadas. Uma das mais comuns é o sistema de "gatilho". Nele, a seguradora cobra o prêmio de acordo com a experiência individual daquele risco. "Mas não há muito espaço para crescer neste segmento". Claudio Afif Domingos, vice-presidente da Indiana Seguros, diz que tem se movimentado para mudar tal cenário. Entre as iniciativas está um estudo para análise mais detalhada do risco. "A intenção é tornar o prêmio mais competitivo e acessível a determinados tipos de frotas", antecipa. Para ele, uma das maneiras de se elevar o percentual de frotistas com apólices seria a exclusão daquelas consideradas de alto risco, como carros para locação avulsa. A Bradesco Seguros e Previdência tem feito pesquisas com os caminhoneiros. Luiz Carlos Nabuco, diretor-gerente de produção auto/RE corporativo da companhia, acredita que o caminho para a expansão do segmento passa por parcerias com os clientes. Elas envolveriam gerenciamento de risco, inclusive a colocação de rastreadores. "São ações que podem ser negociadas para reduzir prejuízos e, conseqüentemente, melhorar o resultado da carteira e o preço do seguro". Mas Picolotti argumenta que o mercado lida com as frotas seletivamente. "A maioria das seguradoras não presta serviços para este segmento, principalmente no caso de cavalos mecânicos e carretas. Alegam que deixam margem negativa", reclama. O vice-presidente da Confenar acrescenta que muitas vezes as companhias do setor alternam ano a ano a operação de seguros para frotas. "Isso dificulta nosso poder de negociação. O produto seguro de frota deveria fazer parte do portfólio de toda seguradora".

Goldman admite que o mercado costuma tratar as frotas diferentemente do seguro individual e que o preço varia muito. "Há espaço para ampliação com o oferecimento de novos tipos de apólice ou serviços aos veículos da empresa. Por exemplo, o seguro de Acidentes Pessoais a Passageiros (APP) ainda é pouco contratado para frotas de veículos", sugere o diretor da AGF.

Seguradoras e frotistas estão de acordo quanto à necessidade de preparar melhor os profissionais com treinamentos, estudos e orientações específicas. A Confenar já tem parcerias com montadoras como Ford, Mercedes Benz e Volkswagen, com empresas de fornecimento de combustíveis e fabricantes de autopeças.

Uma das formas para ter mais segurança é fazer um bom gerenciamento de risco, por meio de incentivos aos motoristas sem histórico de acidentes, cursos e manutenção constante dos veículos. "Se isto for feito com regularidade, as empresas pagarão menos no seguro e economizarão nas franquias, enquanto estão sendo consertados", argumenta Goldman.