Título: Apesar da alta de 24% nas importações, saldo comercial bate recorde no ano
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2006, Brasil, p. A2

Mesmo perdendo fôlego, e impulsionadas mais pelos aumentos de preços internacionais que pelo crescimento das quantidades vendidas, as exportações do Brasil cresceram mais que as importações, em termos absolutos, em março: foram exportados US$ 2,1 bilhões a mais que no mesmo mês de 2005. As importações cresceram US$ 1,8 bilhão em relação a março do ano passado, para US$ 7,69 bilhões. O ritmo de crescimento é maior, porém, para as importações: o Brasil importou 24,4% a mais em março, em comparação a igual mês do ano passado; e exportou 17,5% a mais. Com a manutenção do crescimento das exportações, as vendas externas em março, de US$ 11,37 bilhões, bateram novo recorde, ao superar o desempenho de agosto de 2005. Pela primeira vez na história, o total de exportações e importações, a chamada corrente de comércio, superou a marca de US$ 200 bilhões em 12 meses. A corrente de comércio, que indica o grau de exposição do país ao comércio com o exterior, chegou, só em março, a US$ 19,05 bilhões. "Se os resultados alcançaram essa magnitude, chegaremos com folga à meta de exportações para este ano", disse o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, ao comentar que a estimativa de exportações de US$ 132 bilhões neste ano levava em conta uma queda nas vendas externas, que não aconteceu. O saldo acumulado, no ano, já está em US$ 9,35 bilhões. "Podemos esperar resultados ainda melhores daqui para a frente", comemorou Meziat. O Brasil, que foi o 25º maior exportador mundial em 2005, ultrapassou a Tailândia e a Irlanda, e já está na 23ª posição. Pode chegar à 18ª até o fim do ano, acreditam técnicos do ministério. O bom desempenho dos exportadores garantiu um saldo do comércio exterior, no mês passado, de US$ 3,68 bilhões, o maior do ano, e também o melhor já registrado nos meses de março. Apesar das queixas da indústria contra a baixa cotação do dólar, que reduz a competitividade dos preços das exportações brasileiras, as vendas externas de produtos industrializados também bateram recorde e chegaram a US$ 6,4 bilhões, quase 14% acima do valor registrado em março de 2005. Quase metade do aumento das exportações de março veio das vendas de produtos manufaturados, principalmente automóveis (cerca de 16% acima de março do ano passado), celulares (mais 11,8%), e aviões (55,4%). Também passaram de US$ 250 milhões as vendas de autopeças, motores automotivos e aços laminados planos, que cresceram entre 14% e quase 20% no mês. Apesar de ter aumento percentualmente bem inferior ao do ano passado, as exportações, em março, cresceram a uma taxa maior que em fevereiro, quando o aumento foi de apenas 11% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O crescimento, em março, de 17,5%, ficou acima da média do trimestre, de 16,4%. Mas há elementos, nesse desempenho, que preocupam os especialistas. "O crescimento das exportações está cada vez mais dependente de poucos produtos, e dos aumentos de preços no mercado internacional", ressalva o economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Os aumentos são mais notáveis entre os produtos básicos, como o minério de ferro (50,5% a mais em março, comparados a março de 2005), fumo em folhas (8,5%) e, claro, petróleo (50,4%). As vendas de calçados, outro produto importante da pauta de exportações, caíram 2,9% em março. A gripe aviária provocou queda de 6,3% nas vendas de carne de frango, e as exportações de carne suína tiveram forte queda, de 52,7%. Neste ano, segundo Ribeiro, ainda não serão sentidos fortes efeitos negativos da desaceleração do crescimento das exportações. "Talvez isso ocorra a partir de maio de 2007, se a economia mundial não continuar crescendo contra as expectativas", avalia.