Título: Troca de auditores foi sinal de problemas
Autor: Nelson Niero
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2004, Finanças, p. C-1

A troca dos auditores do Banco Santos, fora do prazo do rodízio obrigatório, deveria ter sido interpretado como um sinal de que algo não ia bem na instituição, segundo fontes do setor de auditoria. A Ernst & Young, que assumiu a auditoria externa do banco em 2001, foi substituída pela Trevisan depois do balanço do primeiro trimestre deste ano. O Banco Central obriga as instituições a trocar de auditoria a cada cinco anos. No final de três anos, elas podem voltar ao seu auditor anterior, que, no caso do Santos, era a PricewaterhouseCoopers. Em seu parecer, com data de 17 de maio, a Ernst & Young aponta uma classificação pouco conservadora para "operações de crédito com várias empresas", no valor de R$ 208 milhões. Segundo uma fonte do BC, em entrevista ao Valor na semana passada, foi esse sinal que levou o banco a apertar a fiscalização. A Trevisan, que assinou o balancete do segundo trimestre, manteve a nota. Na versão extra-oficial do BC, a E&Y foi "descontratada" pelo Banco Santos porque colocou a nota no parecer. Fonte próxima à firma de auditoria, no entanto, diz que a decisão de sair foi da E&Y. Procuradas, as duas firmas informaram que não vão pronunciar-se sobre o assunto. Apesar da nota do auditor - um "parágrafo de ênfase", o que, na linguagem dos auditores, indica uma dúvida, mas não necessariamente um erro nas demonstrações contábeis -, profissionais do setor ouvidos pelo Valor acreditam que o sinal poderia ter sido dado antes. "Aparentemente, houve um problema de 'timing'", diz um auditor de uma grande firma que prefere não ser identificado. "Pelo tamanho do problema que está vindo à tona, a crise já existia bem antes." Irineu de Mula, vice-presidente do Conselho Federal de Contabilidade, diz que não é possível fazer "qualquer julgamento de valor" sobre a atuação dos auditores, mas admite que o problema do banco aparentemente é mais antigo. No entanto, ele acha que se trata mais de um escândalo de governança corporativa do que um escândalo contábil. "É muito comum se jogar a culpa no auditor", afirma. "Mas ele pode ter sido induzido ao erro."