Título: Novo lance na disputa pelo crédito de consumo pode vir do HSBC
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2004, Finanças, p. C-2
Mais um banco pode anunciar hoje uma investida na área do financiamento ao consumo, pouco depois do anúncio da parceria do Bradesco com a Casas Bahia. Desta vez é o HSBC que deve dar o lance, ampliando a cesta de aquisições de varejo, onde já constam a Losango, comprada em 2003, e a Valeu, neste ano. Para o analista do mercado financeiro do ING, Pedro Guimarães, os grandes bancos estão antecipando os movimentos no mercado brasileiro porque as aquisições ficarão muito mais caras quando o Brasil for avaliado como investimento de menor risco ("investment grade"). A arena do varejo bancário está sendo disputada não só pelos três grandes bancos privados nacionais - Bradesco, Itaú e Unibanco -, mas também por players internacionais como o HSBC. Nessa disputa, a parceria recém-anunciada pelo Bradesco e Casas Bahia é apontada por alguns analistas - com algumas exceções - como um dos mais bem amarradas e acabados modelos. "Pela primeira vez o Bradesco deu um passo à frente dos concorrentes", disse Guimarães, elogiando a vantagem de o banco não ter desembolsado nada para pôr o pé na Casas Bahia, a maior rede de venda de bens de consumo, com faturamento de R$ 8 bilhões neste ano. Outros negócios do tipo custaram muito mais. O próprio Bradesco comprou o Zogbi, em 2003, por R$ 650 milhões; e o Mercantil de São Paulo, que trouxe consigo a cobiçada operação do Finasa, por R$ 1,372 bilhão. O Lloyds com a financeira Losango custou R$ 2,3 bilhões ao HSBC. E o Itaú fez uma parceria semelhante com o Pão de Açúcar, que lhe custou R$ 455 milhões, dos quais R$ 380 milhões só de ágio. O Unibanco, precursor na tendência de parcerias entre bancos e redes de varejo, também fez movimentos dispendiosos como a compra do HiperCard, neste ano, por US$ 215 milhões. Embora a Casas Bahia continue bancando o risco de crédito e o custo operacional, o acordo permitirá ao Bradesco acesso à cobiçada carteira de 11 milhões de clientes ativos da rede e renderá um mínimo de R$ 100 milhões mensais de financiamento. "Em um primeiro momento, o Bradesco não vai ganhar no crédito e sim no repasse de funding", disse Guimarães. Pelos mesmos motivos, porém, Ricardo Fernandes Paixão, pesquisador do grupo de serviços financeiros do Programa de Administração de Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP), afirmou que o Bradesco "só ganhou publicidade". Para ele, o cobiçado "negócio da Casas Bahia continua intocado. A empresa não precisa do banco. A grande ganhadora é a Casas Bahia, que conseguiu funding barato". Já o analista de bancos do UBS, Bruno Pereira, considerou o negócio positivo para o Bradesco por agregar um "crescimento significativo" no negócio de financiamento ao consumo do banco. Pereira acredita que o banco vai compartilhar os conhecimentos creditícios da Casas Bahia e terá "a habilidade de canalizar parte dessa base potencial de clientes". Tanto Guimarães quanto Pereira estão de olho, agora, na prometida segunda etapa do acordo, que permitirá ao Bradesco vender produtos financeiros para os clientes da Casas Bahia. O potencial é vasto, dizem. Pereira lembrou que a rede de lojas não tem um cartão private label, por exemplo, "que é um poderoso instrumento de crédito usado pela maioria dos varejistas". Esse é um dos projetos que o Itaú tem com o Pão de Açúcar, nicho que o Unibanco, através da Fininvest , soube desenvolver muito bem. O analista do UBS calculou que a esperada carteira de crédito de R$ 3 bilhões de clientes da Casas Bahia que o Bradesco estima ter em um ano em função do acordo exigirá de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões de capital. Para ele, isso explica o recente aumento de capital de R$ 700 milhões anunciado pelo Bradesco, mesmo que o banco esteja chamando de volta parte dos recursos distribuídos como dividendos como juro sobre capital próprio.