Título: Novo prazo para obter acordo na OMC é junho
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2006, Brasil, p. A2

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, vai reconhecer hoje formalmente diante dos 149 países-membros que o prazo de final de abril para um acordo nas áreas agrícola e industrial está morto, diante da enorme divergência entre exportadores e importadores. Rogerio Pallatta/Valor-14/4/2005 Pascal Lamy, da OMC: impasse nas negociações provoca sucessivos adiamentos

O novo prazo para tentar esboçar tecnicamente um acordo é até a Copa do Mundo de futebol, que começa em 9 de junho. Ficará uma margem para barganhas políticas. As articulações poderiam ser sacramentadas no encontro de cúpula do G-8, que ocorrerá de 15 a 17 de julho na Rússia.

Além dos membros do G-8 - Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Itália, Canadá, Grã-Bretanha e Rússia -, estarão presentes alguns países emergentes convidados para uma sessão especial, incluindo o Brasil.

"É preciso concluir as modalidades completas, e não por pedaços, no começo de junho, porque a situação [da rodada] é muito séria", afirmou o embaixador do Brasil na OMC, Clodoaldo Hugueney, depois de reunião com o diretor-geral, Pascal Lamy. Concluir as modalidades significa definir fórmulas para cortes de tarifas e subsídios, disciplinas para controlar os programas de subvenção, evitar abusos na ajuda alimentar, estabelecer flexibilidades para os países protegerem setores sensíveis da agricultura e da indústria etc.

Para outros importantes negociadores, a reunião do G-8 já será tarde demais para que a Rodada de Doha possa ser concluída neste ano. A rodada é uma sucessão de prazos superados. As modalidades deveriam ter sido completadas em 2003, na conferência ministerial de Cancún (México). A última tentativa de concluía-las foi em Hong Kong, em dezembro do ano passado. Sem acordo, foi fixado o prazo de final de abril.

Na sexta-feira, uma reunião entre Lamy e alguns embaixadores constatou que não valia a pena trazer os ministros à OMC esta semana porque não há o que aprovar. O plano agora é acelerar as negociações nas próximas seis semanas, mas concentrando os trabalhos em Genebra em vez de mini-reuniões ministeriais. Lamy considera que os temas são complexos demais para deixar nas mãos de ministros neste momento.

Mas está difícil antever um acordo. Os Estados Unidos voltaram a mostrar forte ambição no corte de tarifas no comércio agrícola internacional, e ignoraram o que na verdade todo mundo cobra de Washington: redução nos subsídios internos que inflam a competitividade de seus agricultores.

Foi o suficiente para a União Européia acusar Washington de ir para um "sentido extremo", em vez de procurar solução intermediária que leve a um compromisso entre importadores e exportadores.

Por sua vez, o jornal "The New York Times" constatou em editorial que a nova negociadora comercial chefe dos EUA, Susan Schwab, não tem os dois pontos considerados essenciais para o cargo: apoio no Congresso e acesso direto ao presidente Bush. Sua nomeação não combina bem com a fase crucial das negociações na OMC, conclui o jornal.

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