Título: Venezuela ameaça Colômbia e Peru com protecionismo
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Fonte: Valor Econômico, 24/04/2006, Internacional, p. A9

O Venezuela formalizou neste final de semana sua saída da Comunidade Andina (CAN). Segundo o presidente Hugo Chávez, a retirada é irrevogável. Ele disse ainda que vai impor medidas de proteção contra importações da Colômbia e do Peru, países que assinaram recentemente acordos comerciais com os EUA. O objetivo seria evitar uma invasão de produtos americanos vindos desses países.

O presidente venezuelano afirmou que seu país não pode competir com "produtos supersubsidiados" dos EUA. Ele acusou Colômbia e Peru de, com seus acordos com os EUA, matarem a CAN.

A CAN foi formada em 1969, como um grupo de desenvolvimento regional. Nos anos 90, o bloco reduziu a ênfase em medidas de desenvolvimento e passou a funcionar como uma área de livre comércio. Desde 1995, vigora uma união aduaneira, com tarifa externa comum para produtos importados (em média de 13,5%). Com a saída da Venezuela, a CAN fica agora composta por Colômbia, Peru, Equador e Bolívia.

Chávez omite, porém, que antes mesmo de Colômbia e Peru fecharam seus acordos com os EUA, a Venezuela já havia anunciado a sua adesão ao Mercosul, uma outra união aduaneira. Enquanto não negocia os termos da sua adesão definitiva ao Mercosul (as negociações começam no próximo dia 15 de maio), a Venezuela participa como membro associado do bloco.

Segundo especialistas, era inviável a presença do país na CAN e no Mercosul. Há meses se especulava que a Venezuela possivelmente deixaria o bloco andino. Chávez parece ter achado nos acordos com os EUA um pretexto para responsabilizar os vizinhos.

A Venezuela encaminhou no sábado o pedido formal de saída da CAN. O processo, porém, deve ser lento e pode durar até cinco anos. "É uma decisão estratégica para salvaguardar os interesses nacionais", disse Chávez ontem, em seu programa de TV Alô presidente.

Para Chávez, os acordos de livre comércio com os EUA beneficiam apenas grandes empresas internacionais e prejudicam a população pobre da região.

Em carta à CAN, o governo venezuelano afirma que os acordos comerciais de Colômbia e Peru com os EUA vão contra os "princípios originais" da entidade ao colocarem "interesses especiais acima dos interesses do povo".

Chávez se opõem a qualquer tipo de acordo comercial com os EUA, inclusive a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), cuja negociação está paralisada. Ele acusa o governo americano de tentar "impor uma ditadura internacional" através desses acordos.

"Estamos agora livres para tomar medidas de proteção contra a Colômbia e o Peru", disse Chávez. "Teremos de tomar uma série de medidas para nos proteger da invasão de produtos dos EUA."

Chávez não especificou que tipo de medidas serão adotadas. Os EUA e a Colômbia são os maiores parceiros comerciais da Venezuela. No ano passado, o comércio entre Venezuela e Colômbia, as duas maiores economias da CAN, somou US$ 2,5 bilhões.

Alguns líderes empresariais venezuelanos advertiram que a saída do país da CAN pode prejudicar sua economia e custar empregos. O governo não concorda.

Chávez tem um histórico de atritos com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, principal aliado de Washington na América do Sul e que deve ser reeleito para o cargo no mês que vem. Uribe se empenhou pessoalmente pelo acordo comercial com os EUA.

O Peru também fechou tratado comercial com os EUA, que ainda não foi ratificado pelo Congresso peruano. O favorito às eleições presidenciais no país, o nacionalista Ollanta Humala, é contra o acordo. O Equador também negocia um acordo com Washington, mas as negociações estão emperradas.