Título: Com Bolten como novo homem-forte, governo Bush fica menos Texas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2006, Internacional, p. A9

Em menos de 15 dias no cargo, o chefe de Gabinete da Casa Branca, Joshua Bolten, já mostrou ser o novo homem-forte do governo americano. Escolhido para "reenergizar" a administração George Bush, este apaixonado por motos e rock está promovendo uma ampla mudança no alto escalão do governo. Sai o pessoal do Texas que chegou com Bush e entram os profissionais de Washington. Associated Press Ele é o homem: Joshua Bolten, o novo chefe de Gabinete da Casa Branca

Com longas credenciais políticas e empresariais, Bolten mostrou que tem carta branca para agir ao forçar a saída de Scott McClellan, porta-voz de Bush nos últimos três anos, e ao restringir o poder de Karl Rove, até agora principal estrategista político do presidente, que deixou tarefas de elaboração de políticas de governo para se dedicar mais à eleição de novembro, que renovará parte do Congresso.

"O presidente deu a ele [Bolten] autoridade para fazer o que precisa fazer, e o que ele acredita ser o melhor interesse da Casa Branca e do presidente", disse McClellan, antes de deixar o cargo.

Bolten surpreendeu. Quando foi indicado para chefe de Gabinete, seu nome foi criticado por políticos que desejavam mudanças mais significativas no coração da Casa Branca. A chegada de Bolten, um leal amigo da família Bush, foi interpretada como uma troca de seis por meia dúzia.

Mas a mudança refletiu o retorno de uma figura clássica em Washington: a do poderoso chefe de Gabinete. Embora Andrew Card, antecessor de Bolten, fosse considerado competente, era muito discreto, do tipo que "corre para pegar hambúrgueres para o chefe", dizem na capital. Bolten, ao contrário, tem exercido sua autoridade com destreza.

O novo chefe de Gabinete de Bush tem ainda um forte histórico na política interna americana, outro contraste com seu antecessor, cujo nome não esteve ligado a nenhuma iniciativa de peso.

Nascido em Washington, ele é um dos poucos assessores próximos de Bush que não é texano.

"Houve uma saída de assessores vindos do Texas. Alguns caíram, outros voltaram para casa. Mas sobrava um núcleo duro, que sobreviveu todos os cinco anos e meio [de governo Bush] e que está agora sendo reformado por pessoas que têm um instinto mais apurado de Washington. É isso que Bolten representa", disse Cal Jillson, professor de ciências políticas na Southern Methodist University.

Como vice-chefe de Gabinete da Casa Branca, Bolten ajudou a moldar os cortes de impostos no início do governo Bush, antes de se tornar diretor de Orçamento. Nesse cargo, subestimou o crescimento do déficit fiscal do país. "O déficit está caindo. E caindo muito", prognosticou de forma (muito) errada há pouco tempo.

Bolten estudou na Universidade Princeton e na escola de Direito da Universidade de Stanford. No início dos anos 90, lecionou comércio internacional na escola de Direito de Yale.

Seu currículo tem uma excentricidade: ele é baixista numa banda de rock chamada DAD (Deficit Attention Disorder, doença conhecida em português como Distúrbio de Déficit de Atenção). O nome da banda, obviamente, virou piada em Washington. Seria um dos males de que sofre o governo Bush.

A atuação de Bolten junto ao Congresso, onde tem bom trânsito, é considerada crucial para o sucesso das metas orçamentárias do governo. Bush quer reduzir o déficit público por meio de cortes nos gastos. Mas, num ano eleitoral, o Congresso resiste.

Bolten trabalhou por três anos no governo Bush pai como conselheiro-geral para o USTR, o escritório do negociador comercial dos EUA. Durante o governo Clinton, atuou no setor privado, como diretor-executivo da Goldman Sachs.

As mudanças sugerem que Bush sabe que seu legado corre um sério perigo. Pesquisas de opinião vêm mostrando quedas seguidas na aprovação do governo, além de forte descontentamento com a guerra no Iraque. Mas refletem também o reconhecimento do presidente de que a Casa Branca não funcionava bem, com linhas pouco definidas de autoridade.

"Existiam três pessoas com poderes maiores que os do chefe de Gabinete, e esse cargo passou a não importar", disse um estrategista republicano. "Bolten disse a Bush que só aceitaria o cargo se tivesse autoridade para fazer mudanças. E isso marca um grande salto." (Com agências internacionais)