Título: País "mais barato" atrai serviço bancário
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2006, Legislação & Tributos, p. E3

Os bancos e demais instituições financeiras de países desenvolvidos estão cada vez mais transferindo a prestação e o desenvolvimento de determinados serviços e funções para outros países, onde os custos são menores. É o que mostra uma pesquisa global realizada pela Deloitte, empresa de consultoria e auditoria, com 62 instituições financeiras de 12 países. Segundo Jack Ribeiro, líder mundial da área de atendimento a instituições financeiras da Deloitte, o chamado offshoring (transferência da área ou prestação de serviço para um outro país) se expandiu muito nos últimos dois anos e deve continuar crescendo até 2010. "Uma pesquisa realizada por nós em 2003 mostrava que 26% das empresas tinha aderido ao offshoring, sendo que neste novo estudo, 70% das instituições já optou por essa estratégia", diz Ribeiro. Nelson Perez/Valor Jack Ribeiro: "na pesquisa atual, 70% das instituições já optou pela estratégia"

O processo de transferência de atividades começou predominantemente nas áreas de tecnologia da informação (TI), mas logo os bancos começaram a transferir centrais de atendimento telefônico, serviços de backoffice, banco de dados, transações do tipo B2B (business-to-business) e folha de pagamento. Segundo a pesquisa, pelo menos metade das operações de offshoring resultam em redução de 40% dos custos para as instituições.

De acordo com o executivo, a América Latina e a Ásia tendem a ser as regiões mais procuradas pelas empresas que querem transferir serviços. "Como o processo começou pela área de TI, a Ásia, e principalmente a Índia, foram os mais beneficiados nessa primeira fase", explica. "No entanto, a partir de agora, outros serviços, como os call centers devem ter uma expansão maior, beneficiando outros países", observou.

"Nesse segmento de instituições financeiras, acredito que a América Latina, particularmente Brasil e México sejam muito procurados para o offshoring", avalia Ribeiro. "São os dois países com os sistemas financeiros mais evoluídos da região. O segmento financeiro é muito evoluído no Brasil", destaca. Na hora de escolher um local, a empresa leva em consideração - além do baixo custo de contratação - a qualificação e o bom nível educacional e o número de pessoas que falam o idioma do país de origem da instituição.

Segundo Clodomir Félix, líder nacional da área de instituições financeiras da Deloitte, o Brasil já começa a ser procurado para operações de offshoring. "Já há bancos implantando centros de tecnologia aqui".

Na avaliação da Deloitte, para ter uma economia eficiente, o ideal é que as instituições façam a transferência de pelo menos quatro ou cinco áreas ou serviços. "Pelas respostas, as instituições que alcançaram melhores resultados são as que realocam esse número de funções, em média", diz. A pesquisa apontou ainda que as instituições já tem cerca de 3,5% da sua força de trabalho locais offshore e com isso conseguiram economizar 40% nos custos. Mas pela análise da melhor performance, com um percentual de funcionários offshore de 6,8%, a economia pode chegar a 60%.

Segundo o executivo da Deloitte, ao optar pelo offshoring as empresas buscam reduzir custos e ganhar mais flexibilidade, mas o principal temor é que os consumidores ou a opinião pública tenha uma reação negativa ao fato de a empresa ter transferido funções para outro país. Um segundo fator temido pelas instituições é uma eventual perda de qualidade com o offshoring, embora algumas apontem que também possa ocorrer o contrário.